Variedades • 16:49h • 27 de dezembro de 2025
Metas irreais transformam janeiro em mês de frustração emocional
Estudos mostram queda no bem-estar em janeiro, e especialista explica por que a autocobrança excessiva transforma objetivos em gatilhos de sofrimento
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Lara Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1
A virada do ano costuma vir acompanhada de listas ambiciosas de promessas pessoais e profissionais. No entanto, poucas semanas depois, boa parte desses planos já começa a ruir. Dados globais analisados pela plataforma Strava desde 2017 indicam que a maioria das pessoas abandona suas resoluções anuais por volta de 19 de janeiro, data conhecida como Quitter’s Day. O fenômeno não é isolado e reflete um padrão emocional recorrente no início do ano.
O cenário é reforçado por levantamentos internacionais. O relatório Global Emotions 2023, da Gallup, aponta que cerca de um terço da população mundial relata níveis elevados de estresse, especialmente no retorno às rotinas após períodos de pausa. Janeiro concentra esse impacto ao reunir expectativas de mudança, reorganização financeira e retomada intensa das atividades, criando um ambiente propício à frustração.
Para o psicólogo Jair Soares dos Santos, fundador do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas (IBFT) e doutorando em Psicologia pela Universidade de Flores (UFLO), na Argentina, o problema não está em estabelecer metas, mas na forma como elas são construídas. “A virada do ano cria a ilusão de que tudo precisa recomeçar perfeito. Muitas metas nascem da autocrítica e da comparação, não de um planejamento realista. Quando a pessoa não sustenta o ritmo, ativa memórias antigas de inadequação”, explica.
Expectativa alta, energia limitada
Embora o imaginário coletivo trate janeiro como um grande ponto de partida, pesquisas mostram que o bem-estar emocional tende a cair justamente nesse período. Estudos da American Psychiatric Association indicam aumento da tensão no início do ano, associado a obrigações financeiras, retorno ao trabalho e necessidade de reorganizar a rotina.
A sobrecarga se intensifica quando as metas envolvem transformações rápidas e rígidas, como mudanças corporais imediatas, saltos bruscos de produtividade ou reinvenções profissionais em poucas semanas. “Quando a meta nasce da exigência, e não do desejo real, ela se torna um gatilho emocional. A pessoa tenta compensar sentimentos antigos de insuficiência, em vez de construir um objetivo possível”, avalia Soares.
Comparação e culpa agravam o cenário
Outro fator que pesa nesse período é a comparação constante. Pesquisas da Harvard Business School indicam que a exposição a padrões idealizados reduz a motivação e amplia sentimentos de inadequação. Nas redes sociais, o início do ano costuma ser marcado por narrativas de sucesso, disciplina e performance, o que intensifica a sensação de fracasso quando os resultados não aparecem.
Segundo o psicólogo, a frustração não está apenas em não cumprir a meta, mas na interpretação emocional desse fracasso. “Muitas pessoas transformam a quebra de uma meta em um julgamento pessoal. Na maioria das vezes, o erro está no modelo de metas, não na capacidade individual. Entender isso evita ciclos de culpa e desistência”, afirma.
Como construir metas mais sustentáveis
A literatura acadêmica e a prática clínica apontam caminhos para reduzir a frustração e tornar os objetivos mais viáveis. Entre as estratégias mais eficazes estão a redução do número de metas, a consideração do estado emocional atual e a possibilidade de ajustes ao longo do processo.
Pesquisas da Dominican University of California mostram que metas específicas e em menor quantidade têm taxas de cumprimento maiores do que listas extensas. Para Soares, também é essencial avaliar a disponibilidade emocional. “Se a mente está em alerta constante, qualquer plano vira mais uma fonte de pressão”, observa.
Outro ponto é compreender o motivo real do objetivo. Metas alinhadas a desejos genuínos, e não a expectativas externas, tendem a ser mais duráveis. “Quando a pessoa entende por que quer algo, e não apenas o que acha que deveria querer, o processo se torna mais leve”, explica.
O corpo como sinal de alerta
Sintomas como irritabilidade, cansaço persistente e dificuldade de concentração são comuns em períodos de autocobrança excessiva. Pesquisas da Organização Mundial da Saúde indicam que esses sinais costumam acompanhar estados prolongados de estresse. Para o psicólogo, ignorá-los é um erro comum. “O corpo avisa quando a meta ultrapassou o limite emocional. Esse é o momento de ajustar o plano, não de intensificar a cobrança”, orienta.
Planejamento com cuidado emocional
Para Soares, o início do ano não deveria ser tratado como um teste de eficiência pessoal. “Metas são ferramentas, não julgamentos. O que adoece não é o objetivo, mas a lógica emocional que sustenta sua construção. Quando a pessoa entende que não precisa provar nada, o planejamento deixa de oprimir e passa a impulsionar”, conclui.
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