Responsabilidade Social • 10:49h • 22 de novembro de 2025
Análise aponta como o machismo cotidiano sustenta o feminicídio no país
Análise aponta que violência extrema contra mulheres nasce de estruturas culturais, desigualdades e omissões sociais que ainda sustentam o machismo no país
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Mention | Foto: Arquivo/Âncora1
O feminicídio permanece como uma das expressões mais graves da desigualdade de gênero no Brasil e expõe falhas profundas dos mecanismos de proteção às mulheres. Apesar dos avanços legais, o país registra índices crescentes de violência letal, em um cenário que combina machismo estrutural, omissão social e fragilidade das políticas públicas.
Segundo o Atlas da Violência 2025, entre 2022 e 2023 o número de homicídios de mulheres cresceu 2,5%, mesmo com a queda geral dos homicídios no país. Em 2023, dez mulheres foram assassinadas por dia, e 68,2% delas eram negras. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública contabilizou 1.463 feminicídios no mesmo ano, mais de quatro por dia, totalizando 10.655 casos entre 2015 e 2023.
Cultura de desigualdade sustenta práticas violentas
O fenômeno vai além da criminalidade. Como explica a análise do neuropsicólogo Nicollas Rosa de Souza, a violência extrema não surge de forma isolada, mas como resultado de estruturas culturais que naturalizam o poder masculino e negam a autonomia feminina. Comportamentos cotidianos, como ciúme legitimado, desvalorização da independência das mulheres ou sobrecarga doméstica invisibilizada, reforçam o ambiente de desigualdade.
A tolerância a piadas sexistas, a culpabilização das vítimas e a banalização de comportamentos abusivos produzem um contexto social que favorece o agressor. Esse processo cria a base psicológica que sustenta os crimes mais graves, reforçando a percepção de que o corpo e a vida da mulher podem ser controlados.
Cadeia crescente de violência e sensação de impunidade
A escalada da violência costuma seguir um padrão reconhecido pela psicologia forense: isolamento emocional, controle psicológico, agressões físicas e, nos casos mais extremos, o assassinato. A pesquisa do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de agressão nos últimos 12 meses, o equivalente a 37,5% da população feminina.
A falta de acolhimento adequado, serviços públicos sobrecarregados e respostas lentas reforçam um ciclo de impunidade. Em muitos casos, mesmo quando as vítimas buscam ajuda, a ausência de proteção efetiva aumenta o risco e oferece ao agressor a percepção de que pode continuar.
Transformação cultural é passo indispensável
Especialistas apontam que a redução dos feminicídios depende de uma mudança cultural profunda. Medidas punitivas são essenciais, mas insuficientes se não acompanhadas de políticas de prevenção e educação em igualdade de gênero desde a infância. Redes de proteção articuladas entre saúde, segurança pública e assistência social são igualmente necessárias.
A análise destaca ainda que o silêncio coletivo contribui para a continuidade da violência. A omissão diante de sinais de abuso em ambientes familiares, escolares ou profissionais reforça comportamentos agressivos e impede a intervenção precoce. Romper esse ciclo exige posicionamento público, responsabilidade individual e envolvimento comunitário.
Enfrentar o feminicídio exige ação de toda a sociedade
Os números evidenciam que o feminicídio não é uma fatalidade, mas o resultado de práticas sociais e culturais que podem — e precisam — ser transformadas. A resposta envolve coragem política, políticas públicas efetivas e educação social. Para especialistas, enfrentar o feminicídio significa decidir que tipo de sociedade o país deseja construir e quais vidas está disposto a proteger.
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