Saúde • 16:16h • 24 de novembro de 2025
Burnout e desigualdade aceleram aposentadoria médica e revelam futuro desafiador da profissão
Levantamento do Medscape mostra pressões emocionais, financeiras e estruturais que influenciam quando e como médicos encerram a carreira
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1
A aposentadoria médica no Brasil está passando por uma transformação silenciosa, marcada por esgotamento emocional, desigualdade de gênero e incerteza financeira. O tema, que à primeira vista parece distante do dia a dia da população, ganha relevância nacional no momento em que o país amplia cursos de Medicina e especializações, como ocorre em Assis, que já vive a chegada de novas turmas, programas de residência e uma crescente demanda por formação avançada. O estudo do Medscape, que ouviu 1.240 médicos em todas as regiões, ajuda a entender os desafios que esses futuros profissionais encontrarão ao longo da carreira.
O levantamento indica que 59% dos médicos com menos de 45 anos já vivem sinais de burnout, um índice que chama atenção pela precocidade. Entre mulheres médicas, o desgaste é ainda maior, chegando a 57%, reflexo de longas jornadas, dupla carga de trabalho e desigualdades estruturais. A pesquisa também mostra que elas têm menos confiança na estabilidade financeira futura, enquanto eles projetam rendas mais altas para a aposentadoria.
Segundo Leoleli Schwartz, editora sênior do Medscape, os dados escancaram um novo cenário dentro da medicina brasileira. “A aposentadoria médica deixou de ser apenas uma decisão econômica. Ela é profundamente impactada pela saúde mental, pela desigualdade de gênero e por pressões que começam ainda na juventude da carreira”, afirma. A perspectiva ajuda a compreender o clima vivido em cursos e hospitais — inclusive nos programas de residência que começam a se consolidar em Assis — onde médicos jovens já demonstram sinais de sobrecarga.
As projeções também diferem entre gerações. Profissionais abaixo dos 45 anos imaginam se aposentar aos 60, enquanto médicos mais experientes estão mais dispostos a seguir até os 70 ou 80 anos. Entre os homens, 21% pretendem trabalhar até, pelo menos, os 80; entre as mulheres, esse número cai para 10%. O contraste reflete não apenas questões biológicas ou preferências pessoais, mas o impacto acumulado das desigualdades ao longo da trajetória.
O estudo revela ainda diferenças marcantes nos planos para o pós-carreira. Cerca de 30% desejam encerrar totalmente a atividade, enquanto 25% preferem atuar em meio período. Há também quem veja a aposentadoria como um recomeço: 14% pretendem migrar para áreas como docência, gestão e consultoria. Em cidades como Assis, que se prepara para formar novas gerações de médicos, essa transição abre caminho para fortalecer o corpo docente e ampliar a oferta de ensino especializado.
No campo financeiro, a desigualdade permanece. Homens calculam precisar de aproximadamente R$ 25 mil mensais para viver com tranquilidade após a aposentadoria, enquanto mulheres projetam R$ 19 mil. As fontes de renda mais mencionadas incluem poupança e investimentos (82%), pensão estatal (64%), previdência privada (48%) e imóveis (42%). Apesar disso, apenas 36% contam com apoio profissional para planejar o futuro.
A pesquisa também aponta como os médicos imaginam se sentir ao encerram a carreira: 43% acreditam que irão se sentir bem, 18% aliviados e 13% tristes. Entre os mais jovens, o alívio é o sentimento predominante, enquanto os mais velhos demonstram receio diante da perda de identidade profissional. Atividades como viagens, lazer e entretenimento aparecem entre os principais desejos para o período pós-medicina.
Mesmo com expectativas diversas, mais de 62% dos entrevistados afirmam que a idade pesa na decisão de seguir ou não trabalhando. A maioria considera que, a partir dos 75 anos, o médico está “muito idoso” para exercer a profissão. Ainda assim, muitos enxergam a aposentadoria como um processo gradual. “É difícil parar de uma vez só. Prefiro fazer uma transição”, relatou uma anestesista. Outro profissional completou: “Não me preocupo porque estão chegando médicos novos com muito mais capacidade que eu”.
O cenário apresentado pelo Medscape oferece um olhar importante para municípios que estão fortalecendo seu ecossistema de ensino e saúde, como Assis. A formação de novos profissionais, somada à chegada de programas de residência, amplia oportunidades, mas também exige atenção a um futuro onde bem-estar, equidade e planejamento se tornem parte fundamental da carreira médica desde o início.
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