Saúde • 16:39h • 25 de outubro de 2025
Casos de câncer de mama: Estudo revela que pacientes do SUS têm até 16 pontos a menos de sobrevida
Pesquisa revela diagnóstico mais tardio e menores chances de sobrevivência entre mulheres atendidas pelo sistema público
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Sensu Comunicação | Foto: Arquivo/Âncora1
Um estudo realizado com 65.543 pacientes diagnosticadas com câncer de mama em São Paulo entre 2000 e 2020 revelou uma diferença significativa nas chances de sobrevivência entre mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e aquelas tratadas na rede privada. O levantamento, publicado na revista científica Clinical Breast Cancer em 25 de setembro, mostrou que a sobrevida em dez anos pode ser até 16 pontos percentuais menor entre as pacientes do SUS, evidenciando desigualdades estruturais no acesso ao diagnóstico precoce e às terapias integradas.
A pesquisa foi conduzida pelo radio-oncologista Gustavo Nader Marta, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), médico do Hospital Sírio-Libanês, pesquisador do Latin America Cooperative Oncology Group (LACOG) e livre-docente da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
“O que nossos dados demonstram de forma inequívoca é que o local de tratamento ainda determina fortemente o prognóstico das pacientes. Isso reflete desigualdades estruturais e precisa ser enfrentado com urgência”, afirma Marta.
Diagnóstico tardio e impacto direto na sobrevida
Os dados apontam que pacientes da rede privada chegam com mais frequência aos hospitais em estágios iniciais da doença: 41,4% dos casos estavam em estágio I, contra 21,2% no SUS. Já na rede pública, os diagnósticos em estágio III alcançaram 29,5%, e 11,1% das mulheres já apresentavam metástase (estágio IV), proporções bem maiores que na rede privada (16,9% e 5,3%, respectivamente).
Essas diferenças têm reflexo direto nas chances de sobrevida. Após dez anos, 81,6% das pacientes em estágio I na rede privada estavam vivas, contra 77,5% no SUS. Em estágio II, a taxa foi de 74% na rede privada e 63,3% na pública. Nos casos mais graves (estágio III), o contraste é ainda mais acentuado: 55,6% contra 39,6%. Em tumores metastáticos, a sobrevida caiu para 7,6% na rede privada e 6,4% no SUS.
“Quando a paciente é diagnosticada tardiamente, mesmo recebendo os mesmos tipos de tratamento, suas chances de longo prazo ficam muito comprometidas. Precisamos fortalecer políticas públicas de rastreamento e ampliar o acesso a exames de imagem de forma equitativa”, destaca o médico.
Educação e acesso: determinantes da sobrevivência
Além do tipo de sistema de saúde, o estudo também identificou fatores sociais e educacionais como determinantes de melhor prognóstico. Mulheres com maior nível de escolaridade apresentaram maior sobrevida, assim como aquelas que tiveram acesso a tratamentos combinados, como cirurgia associada à radioterapia, quimioterapia ou hormonioterapia.
“Pacientes com mais informação conseguem reconhecer sintomas precoces e buscar atendimento mais rápido. A educação em saúde é fundamental para que a mulher chegue antes ao diagnóstico e possa ter acesso às terapias adequadas”, explica Marta.
Os autores ressaltam que o combate ao câncer de mama exige ações integradas, que vão além da estrutura hospitalar. É preciso investir em informação, prevenção e políticas de apoio para mulheres em situação de vulnerabilidade, de forma que o diagnóstico não ocorra apenas em fases avançadas da doença.
SUS avança, mas desigualdades persistem
Apesar do cenário desigual, a pesquisa mostra melhoria gradual nas taxas de sobrevida das pacientes do SUS nas últimas duas décadas, reflexo de políticas de ampliação do acesso e da incorporação de novos equipamentos de radioterapia.
Mesmo assim, Marta reforça que o CEP ainda define as chances de cura. “Não podemos ignorar que, no Brasil, a chance de sobreviver ao câncer de mama ainda está atrelada ao local de moradia, ao nível educacional e ao tipo de atendimento. Isso precisa ser enfrentado com ações estruturais e investimentos sustentáveis”, afirma.
Entre as medidas recomendadas estão a expansão da cobertura de mamografia, a redução do tempo entre a suspeita e a confirmação diagnóstica, e uma melhor distribuição dos serviços de radioterapia e oncologia cirúrgica no estado.
“Investir em diagnóstico precoce e acesso equitativo a tratamentos modernos não é apenas uma questão técnica, mas de justiça social. A recente recomendação do Ministério da Saúde de iniciar o rastreamento com mamografia a partir dos 40 anos é um passo importante”, conclui o especialista.
Comparações internacionais e desafios
Os resultados do estudo paulista reforçam um padrão observado em países de baixa e média renda, onde as desigualdades no acesso ao diagnóstico e tratamento ainda determinam o desfecho dos casos.
“Nosso trabalho mostra que não se trata de um problema isolado de um tipo de câncer, mas de uma questão estrutural. O momento é estratégico para discutir financiamento e fortalecimento do SUS. Não é aceitável que, em 2025, a chance de uma mulher sobreviver dependa do convênio que ela tem”, finaliza Marta.
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