Saúde • 10:51h • 20 de dezembro de 2025
Casos de câncer crescem entre millennials e mudam perfil da doença no Brasil e no mundo
Avanço da doença em adultos jovens pressiona sistemas de prevenção, rastreamento e cuidado oncológico
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Digital Trix | Foto: Arquivo/Âncora1
Adultos jovens, especialmente os millennials, nascidos entre 1981 e 1996, estão sendo diagnosticados com câncer com maior frequência do que gerações anteriores na mesma faixa etária, segundo dados internacionais. O crescimento dos casos tem levado especialistas a defender mudanças urgentes nas estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e organização do cuidado oncológico.
Levantamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da American Cancer Society (ACS) indicam que, entre 1990 e 2019, os casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos aumentaram cerca de 79% em todo o mundo. No mesmo período, a mortalidade nessa faixa etária cresceu 28%, evidenciando uma mudança relevante no perfil epidemiológico da doença.
“Estamos diante de uma transformação importante. O câncer, que historicamente era associado ao envelhecimento, passou a aparecer com mais frequência em adultos jovens, o que traz implicações clínicas, sociais e emocionais”, afirma Carlos Gil Ferreira, oncologista, diretor médico da Oncoclínicas&Co e presidente do Instituto Oncoclínicas.
Estilo de vida e ambiente ampliam o risco
De acordo com os especialistas, não há uma única causa para esse avanço. O aumento dos diagnósticos está relacionado a um conjunto de fatores ambientais e comportamentais que se intensificaram nas últimas décadas. Entre eles estão a má alimentação, com alto consumo de ultraprocessados, obesidade iniciada ainda na infância, sedentarismo, consumo excessivo de álcool, privação crônica de sono, exposição a poluentes e alterações da microbiota intestinal.
“A carga ambiental e o estilo de vida contemporâneo têm influência direta nessa mudança de padrão”, explica Carlos Gil. Um dos exemplos mais citados é o câncer colorretal, cuja incidência entre jovens cresce de forma consistente e está associada à dieta inadequada, obesidade e inflamação intestinal de baixo grau.
Outro ponto de atenção são os cânceres relacionados a infecções virais, como o HPV, ligado ao câncer do colo do útero e da cavidade oral. A vacinação, considerada uma das principais formas de prevenção, ainda apresenta cobertura insuficiente em diversas regiões.
Mudança visível nos consultórios
Nos centros oncológicos, o fenômeno vai além das estatísticas. “Hoje é comum atender pacientes na faixa dos 30 ou 40 anos com tumores que antes eram vistos quase exclusivamente após os 60”, afirma Cristiano Resende, oncologista da Oncoclínicas. Segundo ele, o aumento não se explica apenas por mais exames, mas por um crescimento real da incidência.
O câncer de mama é um dos casos mais emblemáticos. “Temos observado um aumento significativo de diagnósticos em mulheres com menos de 40 anos, muitas em plena fase produtiva, construindo carreira ou planejando ter filhos. O impacto do diagnóstico é profundo e altera planos pessoais, profissionais e familiares”, explica.
Além dos fatores comportamentais, Resende aponta o avanço dos métodos diagnósticos e a maior identificação de componentes genéticos, hoje mais acessíveis, como elementos que ajudam a explicar esse cenário. Ainda assim, ele alerta para uma defasagem nos protocolos de rastreamento. “Historicamente, buscamos a doença após os 50 anos. A pergunta que precisamos fazer é se estamos diagnosticando tarde porque estamos procurando tarde.”
Prevenção e rastreamento precisam evoluir
O aumento de casos em adultos jovens também pressiona o sistema de saúde. Enquanto o setor privado dispõe de terapias avançadas, como imunoterapia e medicina personalizada, o acesso no SUS ainda é desigual, o que pode comprometer resultados, especialmente em tumores mais agressivos.
Para enfrentar essa tendência, especialistas defendem revisão dos protocolos de rastreamento, ampliação da vacinação contra HPV, políticas públicas de combate à obesidade, incentivo a hábitos saudáveis desde a infância e maior atenção a sintomas persistentes em jovens, como alterações gastrointestinais.
“O câncer em adultos jovens deixou de ser exceção. É uma realidade em crescimento e precisa ser enfrentada com informação, prevenção e políticas adequadas”, conclui Cristiano Resende.
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