Ciência e Tecnologia • 16:20h • 27 de julho de 2025
Chegada à Lua impulsionou a ciência brasileira e moldou o futuro da tecnologia
Após 56 anos, conhecimentos adquiridos com ida à Lua ainda permitem à comunidade científica dar passos largos no espaço e na Terra
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações da Alesp | Foto: Arte Júnior Miranda

No domingo, 20 de julho de 1969, o mundo parou diante da televisão para testemunhar um marco da humanidade: Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar na Lua. A frase que ele pronunciou “um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade” marcou o auge da corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, e também deu início a uma nova era para a ciência e tecnologia em diversos países, incluindo o Brasil.
Passados 56 anos, os impactos desse feito histórico ainda ressoam em universidades, laboratórios e no cotidiano dos brasileiros. Para o engenheiro espacial Antônio Bertachini, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a missão Apollo 11 foi um divisor de águas. “A chegada à Lua atraiu mais talentos, recursos e estrutura para o Inpe. Foi uma faísca que acendeu muitos caminhos.”
Da Lua para o dia a dia
A missão não beneficiou apenas o setor aeroespacial. A tecnologia desenvolvida para levar o homem à Lua também originou inovações que hoje fazem parte do cotidiano. São os chamados spinoffs, como GPS, código de barras, roupas resistentes ao fogo, sensores ultrassensíveis, panelas antiaderentes, microchips e até tecidos usados em roupas esportivas ou para controle térmico em pessoas com menopausa.
“Sem a corrida espacial, não teríamos os celulares como são hoje. A miniaturização dos componentes foi impulsionada pelas exigências das missões espaciais”, explica Bertachini. Já o astrofísico Amâncio Friaça, da USP, destaca que essas tecnologias precisavam ser leves, rápidas e seguras — requisitos que hoje definem o mundo moderno.
São Paulo, polo da ciência aeroespacial
A chegada do homem à Lua impulsionou o interesse por astronomia e engenharia espacial no Brasil, principalmente em São Paulo. Universidades como USP, Unesp e Unicamp ampliaram suas áreas de pesquisa, e o Inpe, criado em 1961, ganhou força nos anos 1970, apoiado pela base industrial do Vale do Paraíba.
Hoje, São Paulo é referência nacional em ciência e tecnologia espacial. O satélite Amazônia-1, lançado em 2021 com tecnologia 100% nacional, é um símbolo dessa evolução. “Temos o melhor laboratório de integração e testes do hemisfério sul”, afirma Bertachini. Ele destaca ainda o papel essencial da Fapesp no financiamento de pesquisas e formação de cientistas.
A Lua como laboratório científico
A exploração lunar também permitiu grandes avanços no conhecimento sobre a origem do sistema solar. A teoria mais aceita atualmente é a do “Grande Impacto”, segundo a qual a Lua se formou após a colisão da Terra com um corpo do tamanho de Marte. A hipótese só foi possível graças às análises dos 382 quilos de material trazidos pelas missões Apollo.
Friaça, que estuda astrobiologia na USP, aponta que a Lua é uma espécie de museu natural. Sem atmosfera, ela preserva vestígios da história do sistema solar. “Fragmentos de vida primitiva que foram apagados da Terra podem ter sido lançados à Lua, onde ficaram preservados”, afirma.
Legado e futuro
Apesar da expectativa de que o ser humano já estivesse em Marte no início dos anos 2000, os avanços foram mais lentos após o fim da Guerra Fria. Ainda assim, os especialistas acreditam que a exploração espacial continua relevante e estratégica.
“Satélites em órbita são fundamentais para o dia a dia, da previsão do tempo ao monitoramento ambiental. E acredito que, no futuro, brasileiros também estarão na Lua ou em Marte”, diz Bertachini.
Friaça reforça que a ciência espacial continua inspirando novas gerações e fazendo perguntas fundamentais: “De onde viemos? Estamos sozinhos no universo?”. Ele também lembra que a exploração de asteroides e a mineração espacial já são realidade em desenvolvimento.
Mais do que uma conquista americana, a chegada do homem à Lua foi um impulso global. Em São Paulo, ela ajudou a construir uma infraestrutura científica de ponta, gerou políticas públicas e consolidou o estado como polo da ciência aeroespacial brasileira. “O maior legado da Lua talvez não esteja só nas pedras que vieram de lá, mas no quanto ela nos ajudou a entender quem somos”, conclui Friaça.
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