Variedades • 20:28h • 26 de março de 2025
Clean girl, Sad beige baby e Tradwife: os novos estereótipos que estão moldando a geração Z
Estéticas virais que nasceram no TikTok e Instagram estão ultrapassando a moda e moldando comportamentos, reacendendo debates sobre feminismo, papéis de gênero e o perigo da romantização da passividade
Da Redação | Foto: Divulgação

As redes sociais não moldam apenas tendências de consumo — elas estão criando novos estilos de vida inteiros, com valores, comportamentos e padrões de conduta. É nesse cenário que surgem estéticas como "clean girl", "sad beige baby" e "tradwife", termos que viralizaram no TikTok e Instagram e que vão muito além do visual: eles comunicam ideias sobre o que é ser mulher, mãe, esposa e até criança no mundo contemporâneo.
À primeira vista, essas tendências podem parecer inofensivas — até elegantes, organizadas e "aspiracionais". No entanto, ao serem interpretadas como modelos de comportamento, elas reacendem discussões profundas sobre papéis de gênero, padrões estéticos e a linha tênue entre escolha pessoal e pressão cultural.
Clean girl: autocuidado ou ideal inalcançável?
A estética "clean girl" é facilmente reconhecível: maquiagem leve, pele iluminada, roupas neutras e penteado impecável (geralmente com coque ou rabo de cavalo milimetricamente alinhado). A imagem é a da mulher que acorda cedo, toma chá verde, faz skincare com 7 passos, medita e tem tempo para ir à academia — tudo isso com calma e perfeição.
Tradwives e clean girls: o retorno silencioso da passividade feminina no Tiktok
Embora promovida como uma forma de autocuidado, essa estética tem sido criticada por vender um ideal quase inatingível de organização, disciplina e aparência — geralmente centrado em corpos magros, brancos e com acesso a produtos caros. A crítica mais dura vem do feminismo: a "clean girl" seria uma reedição moderna da mulher perfeita, agora travestida de saúde e bem-estar, mas ainda baseada na estética como valor central.
Sad beige baby: minimalismo para bebês ou apagamento da infância?
A tendência do “sad beige baby” ganhou popularidade com pais influenciadores que vestem seus filhos apenas com roupas em tons neutros e decoram os quartos com uma paleta restrita de bege, branco, cinza e marrom-claro. A ideia é criar um ambiente esteticamente sofisticado e “clean” — como se os bebês fossem parte da decoração.
Sad beige baby: quando a infância é moldada para caber no feed dos pais
Críticos argumentam que essa tendência apaga a espontaneidade e alegria da infância, impondo uma estética adulta às crianças. Brinquedos coloridos, estampas animadas e espaços caóticos — marcas típicas da infância — são substituídos por ambientes que agradam visualmente aos pais nas redes, mas pouco dialogam com o universo lúdico das crianças.
Tradwife: a esposa tradicional em versão TikTok
O termo "tradwife" vem de “traditional wife”, ou “esposa tradicional”, e se refere a mulheres que optam por abandonar o mercado de trabalho para se dedicar exclusivamente ao lar, ao marido e à maternidade. No TikTok, vídeos com essa estética misturam cenas de rotina doméstica com legendas sobre valores “femininos”, como doçura, submissão, pureza e recato.
Embora algumas mulheres afirmem que escolheram esse estilo de vida com liberdade, a estética "tradwife" levanta polêmicas por romantizar modelos antiquados de gênero e, muitas vezes, se aproximar de discursos conservadores que pregam o retorno ao “papel natural da mulher”. A crítica principal está no subtexto: a passividade feminina, o elogio ao silêncio, e o resgate de um modelo que foi combatido ao longo de décadas por movimentos feministas.
A estética como forma de ideologia
O que une essas três estéticas é o fato de que não são apenas modas visuais, mas mensagens sociais. Elas operam silenciosamente por meio de vídeos, imagens e sons agradáveis, mas carregam discursos sobre comportamento, papel social e o que é considerado "ideal". E quando esse ideal é sempre calmo, bonito, contido, minimalista e funcional, a espontaneidade, o caos e a complexidade humana — especialmente a feminina — passam a ser lidas como defeitos.
Por que esse assunto deve ganhar força?
Essas estéticas estão se espalhando rapidamente em comunidades digitais e criando padrões de comportamento que parecem neutros, mas carregam valores ideológicos sutis. Com o crescimento da discussão sobre feminismo, liberdade estética e saúde mental, o confronto entre essas novas “personagens” femininas e os movimentos de empoderamento tende a se intensificar.
Além disso, o conteúdo visual altamente consumível e esteticamente atraente dessas tendências as torna acessíveis e desejáveis, mesmo quando o discurso por trás delas é controverso. Por isso, é essencial que consumidores, pais e educadores saibam interpretá-las para além do feed bonito e organizado.
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