Mundo • 19:43h • 21 de julho de 2025
Clonagem digital de carros avança e motoristas descobrem transferências sem saber
Criminosos usam dados vazados para transferir carros sem vistoria; fraude atinge desde motoristas comuns até frotas de montadoras
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Maxima Assessoria | Foto: Divulgação

A clonagem de veículos no Brasil entrou em uma nova era, com golpes cada vez mais sofisticados que vão além da tradicional troca de placas. Utilizando dados vazados de sistemas públicos, criminosos têm conseguido transferir digitalmente a propriedade de carros sem precisar ter acesso físico aos veículos. A prática vem afetando motoristas comuns, empresas de locação e até montadoras, ao explorar falhas nos sistemas eletrônicos do governo.
De acordo com o advogado Francisco Gomes Junior, especialista em crimes cibernéticos e presidente da Associação de Defesa dos Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP), o golpe se apoia em informações sigilosas extraídas principalmente de bases dos Detrans e do Contran. “Os criminosos acessam dados como número do chassi e informações do proprietário e fazem a transferência digital sem vistoria e sem apresentar o carro”, explica.
Segundo o especialista, a prática se sustenta também por meio da comercialização de dados na dark web, um ambiente digital sem regulamentação e de difícil rastreamento. Nesse espaço, organizações criminosas e estelionatários independentes compram pacotes de informações pessoais para aplicar diferentes tipos de fraudes.
As finalidades são diversas: enquanto grandes quadrilhas usam os veículos para lavar dinheiro por meio de empresas de fachada, golpistas autônomos aplicam golpes de empréstimo com garantia veicular. Em ambos os casos, a fraude é feita de forma silenciosa, dificultando a identificação imediata pelas vítimas.
Um dos principais alvos dessas ações são as frotas corporativas internas de montadoras, especialmente veículos utilizados em campanhas promocionais, eventos e postagens em redes sociais. A exposição das placas facilita a ação dos golpistas. “As vítimas muitas vezes só descobrem a clonagem ao receber multas de locais onde seus veículos nunca estiveram ou ao notar transferências irregulares”, alerta Francisco.
Para descobrir se o veículo foi clonado, a orientação é consultar os dados no site do Detran ou no aplicativo Sinesp Cidadão, utilizando a placa, o Renavam ou o número do chassi. Essas ferramentas permitem verificar multas, ocorrências de roubo ou furto e o histórico de propriedade.
Em caso de fraude confirmada, o primeiro passo é registrar um Boletim de Ocorrência. Depois, o consumidor pode ingressar com ação nos Juizados Especiais solicitando o cancelamento da transferência irregular. O processo pode ser feito sem advogado, embora a assistência de um profissional especializado ajude a acelerar a resolução do caso.
Para Francisco, o cerne do problema está na vulnerabilidade dos sistemas públicos. “A Lei Geral de Proteção de Dados foi criada para proteger o consumidor, mas os vazamentos ainda partem principalmente de órgãos públicos. Enquanto isso não mudar, o risco vai continuar alto”, conclui.
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