Mundo • 15:09h • 24 de novembro de 2025
Confecções enfrentam “apagão de talentos” e projetam desafios para o futuro da moda brasileira
Mercado cresce, novas marcas surgem, mas profissionais técnicos se tornam raros e afetam produtividade, qualidade e futuro da indústria
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Acrrux Assessoria | Foto: Arquivo/Âncora1
O mercado de confecção brasileiro vive um paradoxo que já preocupa empresários, marcas e escolas técnicas: enquanto o consumo de moda cresce e novas marcas surgem a cada semana, a oferta de profissionais qualificados despencou. Modelistas, cortadores, piloteiras, costureiros experientes e até estilistas com domínio técnico se tornaram escassos, criando um gargalo que compromete toda a cadeia produtiva — do desenvolvimento ao acabamento final.
Essa realidade, descrita por Aluízio de Freitas, diretor da Sigbol, uma das instituições mais tradicionais de formação técnica em moda do país, resume o que muitas confecções enfrentam diariamente. “O apagão de talentos não começou agora. Ele foi se intensificando ao longo das últimas décadas, conforme o país deixou de valorizar o saber fazer. Hoje pagamos essa conta”, afirma.
O problema vai além da costura. Faltam profissionais para funções intermediárias essenciais, como confecção de ficha técnica, gradação de moldes, encaixe, pilotagem, controle de qualidade e interpretação de modelos. Cada uma dessas etapas exige conhecimento prático, precisão e experiência — capacidades que não se desenvolvem por improviso. Quando esse time técnico não existe, o resultado é inevitável: processos lentos, custos elevados, retrabalho e perda de competitividade.
A ausência de mão de obra capacitada também reflete uma mudança estrutural no setor. Durante anos, parte da indústria buscou soluções rápidas e baratas, ignorando o tempo necessário para formar bons profissionais. “A velocidade nunca substitui o domínio de um ofício. Um bom modelista leva anos para ser formado. Uma piloteira precisa prática contínua. Quando o mercado deixa de investir nisso, a indústria inteira sofre”, reforça Freitas.
A Sigbol, que soma 56 anos de atuação e contabiliza mais de 500 mil alunos e 2 mil docentes, é testemunha desse movimento. Para o diretor, a única solução sustentável é retomar a valorização do ensino técnico e criar condições para que os profissionais permaneçam no setor. Ele destaca que, em países com forte indústria têxtil, como Itália e Portugal, o domínio técnico é tratado como patrimônio cultural e estratégico — algo que o Brasil ainda precisa reencontrar.
A urgência da formação também acompanha a evolução do próprio mercado. Com o crescimento de micro e pequenas marcas, ateliês e negócios autorais, aumenta a busca por profissionais capazes de transformar ideias em produtos viáveis, bem feitos e com acabamento profissional. Sem essa base técnica, a moda perde qualidade e o empreendedor perde competitividade.
Sem mão de obra qualificada, não há coleção, não há marca e não há futuro para o setor. E à medida que o mercado cresce, a escassez se torna ainda mais evidente — e mais cara. Valorizar o ensino técnico, fortalecer escolas de formação e incentivar carreiras práticas não é apenas uma necessidade; é uma estratégia de sobrevivência para a indústria da moda brasileira.
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