Educação • 10:13h • 25 de agosto de 2025
Dia Nacional da Educação Infantil: desafios da inclusão de crianças autistas em creches e pré-escolas
Brasil registra mais de 636 mil estudantes com TEA, mas especialistas alertam que matrícula ainda não garante inclusão real
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Agência Temma | Foto: Divulgação

O Dia Nacional da Educação Infantil, celebrado nesta segunda-feira, 25 de agosto, chama atenção para um tema cada vez mais urgente: a inclusão de crianças com autismo nas creches e pré-escolas brasileiras. Embora os números de matrículas estejam em constante crescimento, especialistas afirmam que o país ainda falha em transformar presença física nas salas de aula em inclusão de fato.
Segundo o Censo Escolar 2023, o Brasil registrou 636 mil estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados na educação básica, o que representa 35,9% do total de alunos da educação especial. O levantamento também mostrou que, entre 2022 e 2023, o número de estudantes autistas em salas comuns cresceu 50%, saltando de 405 mil para mais de 607 mil. O dado mostra avanço, mas também revela o desafio de garantir condições reais de aprendizagem e convivência.
O paradoxo das matrículas
O Brasil possui hoje uma das maiores populações autistas do mundo, estimada em 2,4 milhões de pessoas, segundo o IBGE. Para Thalita Possmoser, vice-presidente clínica da Genial Care, a diferença entre matrícula e inclusão precisa ser encarada com seriedade. “Temos um salto expressivo nos números, mas precisamos perguntar: essas crianças estão realmente incluídas ou apenas inseridas? Inclusão é mais do que presença, é desenvolvimento, apoio e respeito à individualidade”, avalia.
Apesar da ampliação no acesso, cerca de 26% das crianças com deficiência de 0 a 14 anos ainda estão fora da escola, segundo dados do IBGE e da Unicef. Entre as que já estão matriculadas, persistem barreiras como infraestrutura inadequada, ausência de mediadores e falta de formação específica para professores.
Estrutura e recursos humanos ainda são gargalos
Estudos do Instituto Rodrigo Mendes mostram que, apesar do aumento de matrículas na creche (526,9%) e na pré-escola (528,1%) nos últimos anos, 27% das escolas brasileiras não possuem itens básicos de acessibilidade. Além disso, professores relatam insegurança para lidar com as especificidades do TEA, já que os cursos de licenciatura raramente oferecem conteúdos sobre neurodiversidade e práticas pedagógicas inclusivas.
A presença do mediador escolar profissional que auxilia na comunicação e na adaptação da rotina da criança com deficiência é outro ponto crítico. Muitas famílias precisam recorrer à Justiça para garantir esse direito. “Uma criança de 2 ou 3 anos com autismo tem necessidades muito específicas. Sem mediador, o professor não consegue atender nem a criança no espectro nem os demais alunos”, reforça Thalita.
Diagnóstico precoce e parceria com as famílias
Outro fator essencial é o diagnóstico precoce. Quanto antes os sinais de autismo são identificados, maiores as chances de intervenção adequada e de desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas. Especialistas ressaltam ainda que a inclusão só acontece quando há cooperação entre escola, profissionais de saúde e famílias.
Caminhos possíveis para a inclusão
Avanços em políticas públicas, como a aprovação do atendimento educacional especializado na rede pública e privada, indicam mudanças positivas. No entanto, a efetividade dessas medidas depende de investimentos contínuos em capacitação docente, contratação de mediadores e adaptação da infraestrutura escolar.
Para Thalita Possmoser, a data deve ser encarada como um momento de reflexão. “Celebrar o Dia Nacional da Educação Infantil é também assumir o compromisso de transformar boas intenções em realidade concreta. Inclusão não pode ser vista como algo complementar, mas como parte do direito de todas as crianças à educação”, conclui.
Comunicação como base da aprendizagem
Em outubro, a Genial Care, em parceria com a Revista Autismo e apoio do Instituto Mauricio de Sousa e Parque da Mônica, realizará o 3º Congresso Extraordinário, que terá como tema “Da comunicação à aprendizagem: desmistificando o ensino com autistas”. O evento acontece nos dias 25 e 26 de outubro, em formato híbrido, e discutirá estratégias de comunicação alternativa e abordagens multimodais para apoiar educadores, terapeutas e famílias.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Ciência e Tecnologia
Como se preparar para o primeiro apagão cibernético de 2025
Especialistas alertam para a necessidade de estratégias robustas para mitigar os impactos de um possível colapso digital