Variedades • 17:41h • 28 de dezembro de 2025
Do Orkut ao Instagram: como 21 anos de redes sociais mudaram o comportamento dos brasileiros
Da era dos scraps públicos ao tempo dos algoritmos, as redes deixaram de ser espaços ingênuos de convivência e passaram a influenciar hábitos, relações e a própria democracia
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Foto: Arquivo/Âncora1
No início dos anos 2000, quando o Brasil teve seu primeiro contato massivo com redes sociais, a internet ainda era restrita, elitizada e lenta. Duas décadas depois, em 2025, as redes estão no bolso, no trabalho, na política, no comércio e na vida emocional das pessoas. A trajetória que começa com o Orkut e passa por Facebook, Instagram, YouTube, Twitter/X, TikTok e LinkedIn ajuda a explicar não apenas a evolução da tecnologia, mas principalmente a transformação do comportamento social no Brasil.
A primeira experiência coletiva dos brasileiros com redes sociais aconteceu de forma quase intuitiva. No Orkut, não havia manual de uso, cartilha de etiqueta ou preocupação com privacidade. Os perfis eram abertos, os recados públicos, as fotos visíveis a qualquer visitante. As interações se davam por scraps, testemunhais e comunidades que reuniam desde ex-colegas de escola até grupos bem-humorados como “Eu odeio acordar cedo”. Não havia discussões políticas organizadas, tampouco a noção de discurso de ódio ou campanhas coordenadas de desinformação. Era um ambiente marcado pela curiosidade, pela descoberta e por uma convivência ainda ingênua.
Esse cenário também estava ligado ao contexto da época
A internet era acessada majoritariamente por computadores, os celulares ainda não concentravam aplicativos e o acesso exigia investimento financeiro. Isso criava um recorte social mais restrito e, consequentemente, uma convivência digital menos caótica. As pessoas aprendiam a usar redes sociais vivendo a experiência, sem referências anteriores.
A virada começou no fim de 2008 e início de 2009, com a chegada em massa do Facebook ao Brasil. A plataforma cresceu rapidamente, especialmente a partir da capital paulista, e iniciou um período de transição. Muitos usuários migraram do Orkut para o Facebook, outros mantiveram perfis em ambas as redes. Ao mesmo tempo, uma nova geração começou a ocupar esse espaço, trazendo outra linguagem, outro ritmo e uma exposição cada vez maior da vida pessoal.
Nos anos seguintes, a popularização dos smartphones e dos pacotes de dados mudou tudo. A internet deixou de ser um privilégio e se tornou onipresente. Essa democratização ampliou vozes, mas também abriu espaço para conflitos. As redes passaram a refletir com mais força as tensões sociais existentes fora delas. Diferenças políticas, ideológicas e culturais ganharam palco permanente. O Facebook, que antes reunia amigos e familiares, passou a ser um território marcado por disputas, ataques pessoais e radicalização.
Outras plataformas seguiram caminhos próprios
O Instagram nasceu com foco em fotografia e estética, mostrando paisagens, viagens e registros artísticos. Com o tempo, transformou-se em diário pessoal, vitrine comercial, espaço de influência e palco de comparação constante. O YouTube consolidou-se como grande meio de comunicação audiovisual, misturando entretenimento, informação e opinião. O LinkedIn manteve um perfil mais profissional, embora já comece a sentir reflexos de debates ideológicos. Já o X, antigo Twitter, tornou-se um ambiente de embates intensos, onde convivem debate público, polarização, campanhas coordenadas e camadas de conteúdo que só se revelam mediante permissões específicas.
Paralelamente, as próprias redes mudaram suas regras internas. O que antes era quase totalmente público passou a ser filtrado por algoritmos, bolhas de interesse e sistemas de entrega que priorizam engajamento, nem sempre qualidade. Mensagens privadas ganharam criptografia, enquanto conteúdos sensíveis passaram a coexistir com dificuldades de moderação. Em muitos casos, plataformas resistem a compartilhar informações com autoridades, mesmo diante de solicitações judiciais, o que expõe limites entre liberdade digital, responsabilidade e legislação.
O resultado é um ambiente complexo
As redes deixaram de ser apenas espaços de convivência e passaram a influenciar saúde mental, consumo, eleições e relações sociais. Também provocaram um movimento silencioso de abandono. Muitas pessoas reduziram ou encerraram o uso de redes sociais por cansaço, ansiedade ou desgaste emocional.
A grande pergunta que emerge após 25 anos é inevitável. O que foi cedido ao longo desse processo para que as redes se transformassem no que são hoje. Essa mudança veio apenas das novas gerações ou é fruto de uma popularização sem preparo, em um território sem regras claras desde o início. As redes amplificaram tudo o que existe na sociedade, tanto o afeto quanto a raiva, tanto a informação quanto a mentira.
Às vésperas de mais um ciclo político intenso, o desafio se torna ainda maior. O uso crítico das redes, a checagem de informações e a responsabilidade individual ganham peso num ambiente onde conteúdos falsos circulam com velocidade e impacto. Pensar o caminho que vai do Orkut aos dias atuais não é apenas um exercício de nostalgia, mas uma reflexão necessária sobre como reconstruir espaços digitais mais saudáveis, onde a convivência volte a ser possível e o diálogo não seja exceção.
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