Ciência e Tecnologia • 10:38h • 15 de junho de 2025
Estudo brasileiro reforça que álcool na gravidez compromete o cérebro do feto
Pesquisa da PUCPR confirma que o consumo de álcool durante a gestação afeta o desenvolvimento do córtex cerebral fetal e alerta para os riscos do TEAF
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da PG1 | Foto: Divulgação

Um novo estudo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) confirmou os impactos negativos do consumo de álcool durante a gestação no neurodesenvolvimento do feto. A pesquisa, conduzida com modelos celulares de organoides corticais humanos, revelou que o etanol (EtOH), substância presente nas bebidas alcoólicas, afeta a formação e a atividade das redes neurais do cérebro em desenvolvimento, provocando alterações estruturais e funcionais no córtex cerebral.
Coordenado pelo Dr. Roberto Hirochi Herai, do Laboratório de Bioinformática e Neurogenética (LaBiN) da PUCPR, o estudo contou com a aprovação da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD, EUA) e foi publicado na revista científica Molecular Psychiatry. Os resultados destacam que o etanol altera a organização da cromatina — estrutura que compacta o DNA — e interfere em vias de sinalização intracelular essenciais, prejudicando sinapses e a formação de redes neurais durante o processo de desenvolvimento cerebral.
Álcool e gestação: risco confirmado
Segundo o Dr. Herai, a exposição ao álcool pode provocar distúrbios conhecidos como Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF), que incluem deficiências mentais, físicas e comportamentais. “Esses sintomas podem inclusive se confundir com os do autismo, principalmente nos primeiros anos de vida”, alerta. Embora nos Estados Unidos se estime que 1 a cada 20 nascimentos seja afetado pelo TEAF, no Brasil ainda não há dados oficiais sobre a prevalência do problema.
O estudo reforça que não existe uma quantidade segura de consumo de álcool durante a gestação. Qualquer exposição pode acarretar consequências permanentes ao desenvolvimento fetal.
Crescimento do consumo entre mulheres brasileiras
Dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) indicam um aumento preocupante no consumo abusivo de álcool entre as mulheres no Brasil. Entre 2010 e 2023, o percentual de mulheres que relataram uso excessivo de bebidas alcoólicas subiu de 10,5% para 15,2%. Entre os homens, os índices permaneceram praticamente estáveis, variando de 27% para 27,3%. Na população geral, o número passou de 18,1% para 20,8%.
O crescimento do consumo entre mulheres em idade fértil acende um alerta para os riscos relacionados à gravidez não planejada e à exposição inadvertida ao álcool em fases iniciais da gestação.
Avanço científico e políticas públicas
Dr. Bruno Guerra, também autor do estudo, destaca que ainda se conhece muito pouco sobre os efeitos moleculares do álcool no desenvolvimento do córtex cerebral fetal humano. “Compreender as alterações celulares provocadas pelo etanol pode contribuir para o desenvolvimento de terapias voltadas ao tratamento dos TEAF, além de embasar políticas públicas mais eficazes para a saúde materno-infantil”, afirma.
Publicação e acesso ao estudo
O artigo científico intitulado Impact of alcohol exposure on neural development and network formation in human cortical organoids foi publicado na edição número 28 da revista Molecular Psychiatry e pode ser acessado através deste link.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Ciência e Tecnologia
Como se preparar para o primeiro apagão cibernético de 2025
Especialistas alertam para a necessidade de estratégias robustas para mitigar os impactos de um possível colapso digital