Ciência e Tecnologia • 16:53h • 09 de outubro de 2025
Folhas de café viram matéria-prima para nanopartículas sustentáveis desenvolvidas pela USP
Pesquisadores transformaram folhas de café descartadas em nanopartículas de óxido de zinco com potencial para combater bactérias, degradar poluentes e criar dispositivos eletrônicos sustentáveis. A inovação alia tecnologia e sustentabilidade e pode gerar novas oportunidades para o agronegócio brasileiro
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência SP | Foto: Catalina Tong/iNaturalist

Um grupo internacional de cientistas liderado pela Universidade de São Paulo (USP) descobriu uma nova forma de dar valor às folhas de café, um resíduo agrícola normalmente descartado. As folhas foram usadas para produzir nanopartículas de óxido de zinco, estruturas microscópicas com aplicações promissoras em saúde, meio ambiente e tecnologia. O estudo, apoiado pela Fapesp, foi publicado em agosto na revista Scientific Reports.
As nanopartículas apresentam propriedades distintas das versões em escala maior dos mesmos materiais. No caso do óxido de zinco, quando reduzido ao tamanho nanométrico, o composto passa a combater bactérias, acelerar reações químicas e até ser aplicado em dispositivos eletrônicos mais sustentáveis.
O diferencial da pesquisa foi o uso de uma técnica de síntese verde, que dispensa reagentes tóxicos e aproveita compostos naturais presentes nas folhas de café — como antioxidantes e bioativos — para fabricar as partículas. O processo é mais limpo, econômico e alinhado às metas globais de sustentabilidade.
Por ser o maior produtor mundial de café, o Brasil pode se beneficiar diretamente dessa inovação, transformando resíduos agrícolas em insumos de alto valor agregado. Nos testes de laboratório, as nanopartículas demonstraram eficiência contra bactérias como Staphylococcus aureus e Escherichia coli, comuns em infecções hospitalares. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de novos antimicrobianos em um cenário de crescente resistência bacteriana.
Além do potencial na saúde, o estudo mostrou que as partículas conseguem degradar poluentes sob luz ultravioleta. Em um dos experimentos, as nanopartículas eliminaram corantes industriais da água, sugerindo aplicações em estações de tratamento e processos de descontaminação ambiental.
Na área tecnológica, os pesquisadores combinaram as partículas com quitosana — um polímero obtido de cascas de crustáceos — para criar o bioReRAM, um tipo de memória de computador feita com materiais biodegradáveis. A inovação aponta para uma nova geração de dispositivos de “computação verde”, com menor impacto ambiental.
“Estamos diante de uma inovação que aproveita um resíduo agrícola e o transforma em soluções para áreas vitais como saúde, meio ambiente e tecnologia”, afirmou Igor Polikarpov, professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) e autor correspondente do artigo.
Se ampliada para escala industrial, a tecnologia pode gerar novas fontes de renda para produtores rurais, reduzir o desperdício e colocar o Brasil na vanguarda da produção de materiais avançados e sustentáveis a partir de recursos naturais.
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