Ciência e Tecnologia • 15:06h • 25 de outubro de 2025
IA não acaba com programadores, mas transforma a profissão e cria novas funções
Para o executivo Rodrigo Palhano, história da computação mostra que avanços tecnológicos não eliminam o trabalho humano, mas reconfiguram papéis e exigem novas especializações
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Mention | Foto: Arquivo/Âncora1
A popularização da inteligência artificial generativa tem alimentado um debate intenso no setor de tecnologia: será que o futuro da programação dispensará os programadores humanos? Modelos capazes de gerar código, corrigir erros e estruturar sistemas inteiros parecem apontar para um cenário de substituição em massa. No entanto, segundo Rodrigo Palhano, cofundador e vice-presidente do Conselho de Administração da TecnoSpeed, a história da computação revela outro padrão — o de reinvenção constante do papel do programador.
“Cada salto tecnológico, dos cartões perfurados às IDEs inteligentes, veio acompanhado de previsões sobre o fim da programação. E todas se mostraram equivocadas. A tecnologia não elimina o programador, ela cria novas camadas de complexidade e demanda profissionais mais preparados”, afirma Palhano.
A IA repete o padrão da história
Desde o surgimento dos primeiros frameworks e das ferramentas de automação, o mercado prevê a redução da mão de obra técnica. No entanto, o resultado tem sido o oposto: mais linguagens, mais ferramentas e mais especializações. A inteligência artificial segue o mesmo caminho.
De acordo com pesquisa da Stack Overflow, 84% dos programadores já usam ou pretendem usar ferramentas de IA, número superior aos 76% registrados no ano anterior. O uso cresce, mas ainda cercado de desconfiança — principalmente quanto à qualidade, transparência e ética dos códigos gerados.
“Cada inovação prometeu reduzir o esforço humano, mas acabou gerando novas responsabilidades. A IA é mais um exemplo disso. Ela muda a natureza do trabalho, mas não o elimina”, explica Palhano.
Novas funções, novas desigualdades
O Barômetro Global de Empregos em IA, da PwC, mostra que setores mais expostos à tecnologia apresentaram produtividade 4,8 vezes maior, enquanto funções especializadas em IA pagam salários até 25% mais altos.
Esses avanços, porém, trazem um efeito colateral: o aumento das desigualdades entre quem domina as novas tecnologias e quem não teve acesso à capacitação. “O trabalho técnico não desaparece, ele se desloca para novas fronteiras. A questão central é quem estará preparado para atravessá-las”, observa o executivo.
Um futuro com programadores diferentes
Palhano reconhece que o momento atual tem características inéditas. Pela primeira vez, a substituição de parte do trabalho técnico parece plausível, impulsionada por ganhos de produtividade e cortes de custos em grandes empresas de tecnologia. Ainda assim, ele defende cautela.
“A história mostra que o código sempre escapou do script. Toda revolução técnica gerou novos empregos e novas especializações. O programador não está em extinção — está em transição”, afirma.
Para o executivo, o desafio central não é a eliminação de postos de trabalho, mas a redistribuição de papéis, ganhos e responsabilidades. Ele destaca que a regulamentação ética da IA, políticas de formação profissional e investimentos em qualificação são fundamentais para que a automação gere inclusão e inovação, e não exclusão.
“A produtividade vai crescer, mas o verdadeiro teste é se esse crescimento vai se converter em mais oportunidades ou em mais desigualdade. A IA não representa o fim do programador, mas o início de funções que ainda nem têm nome”, conclui Palhano.
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