Ciência e Tecnologia • 20:40h • 12 de dezembro de 2025
Lixo espacial: estudo brasileiro revela onde colisões são mais prováveis e por quê
Pesquisa mapeia regiões sensíveis, mostra como alterações mínimas podem causar impactos e reforça alerta global sobre a síndrome de Kessler
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Unesp | Foto: Divulgação
O avanço das missões espaciais ao longo das últimas oito décadas deixou um rastro crescente de resíduos orbitando a Terra. Hoje, centenas de milhares de fragmentos metálicos, partículas de tinta, pedaços de vidro e componentes de antigos foguetes formam um cinturão de lixo espacial que ameaça satélites, serviços essenciais e futuras missões. Um novo estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) oferece um método mais preciso para identificar áreas críticas e prever alterações perigosas nessas órbitas.
Com apoio da Fapesp, pesquisadores liderados pelo matemático Jorge Kennety Silva Formiga, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Unesp de São José dos Campos, desenvolveram um modelo capaz de indicar quais objetos próximos à Terra são mais vulneráveis às chamadas ressonâncias orbitais, fenômenos que alteram o caminho de detritos e podem colocá-los em rota de colisão. A descoberta foi publicada no Journal of Space Safety Engineering e pode ajudar centros de controle e agências espaciais no planejamento de novos lançamentos.
Simulação de objetos em órbita ao redor da Terra / NASA Orbital D. P. Office
O problema ganhou escala global. Desde o lançamento do Sputnik 1, em 1957, mais de 6 mil sondas, foguetes e satélites foram enviados ao espaço. Segundo estimativas da Agência Espacial Europeia, apenas fragmentos entre 1 e 10 centímetros já somam cerca de 500 mil objetos. Se considerados detritos milimétricos, o número passa de 100 milhões. Cada um deles pode atingir velocidades superiores a 20 mil km/h, o suficiente para destruir satélites operacionais.
O risco se estende à Terra. Alguns deles alcançam a superfície em reentradas descontroladas, como o caso de 2022 em que um fragmento de foguete da SpaceX caiu a poucos metros de uma residência em São Mateus do Sul, no Paraná. Mas é no espaço que o efeito cascata se torna mais preocupante: pequenas alterações nas órbitas podem provocar colisões entre detritos, gerando novos fragmentos e acelerando um processo conhecido como síndrome de Kessler.
A síndrome descreve uma situação extrema em que a densidade de lixo espacial cresce a ponto de desencadear colisões em série, tornando órbitas de operação praticamente inutilizáveis. Nesse cenário, futuras missões, inclusive satélites meteorológicos, de comunicação e navegação seriam comprometidas.
O estudo da Unesp indica que deslocamentos mínimos, da ordem de 50 metros, já podem elevar significativamente o risco de impacto. Esse nível de sensibilidade reforça a importância do monitoramento contínuo e da identificação de zonas críticas, onde a ressonância orbital atua com maior força.
Agências espaciais têm rastreado detritos maiores que 10 centímetros, documentando sua composição, altitude e comportamento dinâmico. A partir disso, planejadores ajustam órbitas e evitam regiões instáveis. A pesquisa brasileira amplia essa capacidade ao fornecer parâmetros matemáticos para prever perturbações antes que elas se tornem perigosas.
Para Formiga, o objetivo é claro: “Identificar como a ressonância orbital influencia o deslocamento dos detritos é fundamental para antecipar riscos e evitar colisões que produziriam ainda mais fragmentos”. A análise detalhada do comportamento orbital, segundo ele, pode orientar políticas internacionais de mitigação e contribuir para manter o espaço utilizável nas próximas décadas.
Enquanto iniciativas de limpeza orbital avançam em ritmo lento, o monitoramento permanece como principal ferramenta para retardar o avanço do problema. O trabalho da Unesp soma-se aos esforços globais de preservação das órbitas terrestres em um momento em que a exploração espacial cresce aceleradamente e o tempo para agir se torna cada vez mais curto.
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