Responsabilidade Social • 11:01h • 22 de maio de 2025
Maioria da população preta afirma ter enfrentado discriminação racial
Dado faz parte de pesquisa apoiada pelo Ministério da Igualdade Racial
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência Brasil | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A cada 100 pessoas pretas no Brasil, 84 afirmam já ter sido alvo de discriminação racial. A informação faz parte de uma pesquisa inédita apoiada pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR), divulgada na terça-feira (20), que revela como o preconceito racial se manifesta no cotidiano dos brasileiros.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores aplicaram questionários baseados na chamada “escala de discriminação cotidiana”. Os participantes responderam se enfrentam, com frequência, situações como ser tratados com menos gentileza ou respeito, receber atendimento inferior em lojas e restaurantes, ser alvo de medo, ameaças ou assédio, ou ainda serem seguidos em estabelecimentos comerciais.
Mais da metade das pessoas pretas entrevistadas (51,2%) disseram ser tratadas com menos gentileza que outras pessoas. Entre os pardos, esse número foi de 44,9%. Já entre os brancos, o índice foi de 13,9%. Quando o assunto é respeito, 49,5% dos pretos relataram se sentir desrespeitados, contra 32,1% dos pardos e apenas 9,7% dos brancos. A diferença é ainda maior em relação ao atendimento em serviços, como restaurantes e lojas: 57% dos pretos disseram receber um tratamento pior, enquanto esse índice foi de 28,6% entre os pardos e 7,7% entre os brancos. Além disso, 21,3% dos pretos relataram serem seguidos em lojas – número praticamente três vezes maior que o registrado entre pardos e brancos, ambos com 8,5%.
A pesquisa foi conduzida pelas organizações Vital Strategies Brasil e Umane, com apoio técnico da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e do Instituto Devive. Ao todo, 2.458 pessoas foram entrevistadas online entre agosto e setembro de 2024. A amostra foi ajustada para refletir o perfil da população brasileira.
Impactos do preconceito
Pedro de Paula, diretor da Vital Strategies Brasil, destacou que os resultados evidenciam a “brutal desigualdade racial que existe no Brasil” e apontou que a experiência cotidiana de discriminação tem impactos profundos na saúde mental, na autoestima e no acesso a direitos básicos, como saúde, emprego e serviços.
Segundo Evelyn Santos, gerente de Investimento e Impacto Social da Umane, esta foi a primeira vez que a escala de discriminação cotidiana foi aplicada com abrangência nacional no Brasil. Além de identificar a ocorrência de preconceitos, o estudo também investigou os motivos apontados pelos entrevistados.
Entre as pessoas pretas, 84% associaram as situações de discriminação à cor da pele. Entre os pardos, esse índice foi de 10,8%. Já entre os brancos, apenas 8,3% apontaram o mesmo motivo. Outros fatores citados foram orientação sexual, renda, religião e obesidade.
O levantamento ainda mostrou que as mulheres pretas são as que mais acumulam diferentes formas de preconceito: 72% delas relataram ter sofrido mais de um tipo de discriminação. Entre os homens pretos, esse índice foi de 62,1%. Já na população branca, 30,5% das mulheres e 52,9% dos homens disseram ter passado por múltiplas situações discriminatórias.
Desigualdades estruturais
Os dados do estudo reforçam o retrato das desigualdades raciais já apontadas por outras pesquisas. O Atlas da Violência mostrou que pessoas negras têm 2,7 vezes mais chances de serem vítimas de homicídio do que pessoas não negras. O Censo de 2022 identificou que pretos e pardos representam 72,9% da população que vive em favelas. Já a taxa de desemprego também evidencia a disparidade: 8,4% entre pretos, 8% entre pardos e 5,6% entre brancos, segundo o IBGE.
Políticas públicas urgentes
Para os responsáveis pelo levantamento, os resultados indicam claramente onde devem ser concentrados os esforços de combate ao racismo. Eles reforçam ainda a necessidade de que políticas públicas, especialmente na área da saúde, enfrentem as desigualdades de forma direta.
Pedro de Paula lembra, por exemplo, que mulheres negras sofrem mais violência obstétrica e têm menos acesso a medicamentos e analgesia do que mulheres brancas. “Qualquer organização, governo ou empresa que atue com temas sociais no Brasil tem o dever de enfrentar essa estrutura profundamente desigual, especialmente no que diz respeito à questão racial”, conclui.
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