Responsabilidade Social • 12:04h • 17 de julho de 2025
Maioria na medicina, mulheres ainda enfrentam preconceitos sutis e desafios à liderança
Mesmo sendo maioria no Brasil, médicas ainda enfrentam barreiras invisíveis, cobranças desiguais e dificuldades para alcançar liderança
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Assessoria | Foto: Divulgação

Mesmo sendo maioria entre os profissionais da medicina no Brasil, as mulheres ainda enfrentam barreiras invisíveis que dificultam seu pleno reconhecimento. Segundo o relatório Demografia Médica no Brasil 2025, elaborado pelo Ministério da Saúde em parceria com a FMUSP e a AMB, elas representam 50,9% dos médicos em atividade. Apesar desse avanço numérico, persistem desafios relacionados à desigualdade salarial, à sub-representação em especialidades cirúrgicas e à baixa ocupação de cargos de liderança.
A cirurgiã plástica e craniomaxilofacial Dra. Clarice Abreu compartilha sua trajetória marcada por escolhas corajosas e enfrentamento de preconceitos sutis. “Entrei em uma sala de cirurgia sabendo que nem sempre eu seria levada a sério de primeira”, relembra. Segundo ela, muitas dificuldades não aparecem nos livros ou estatísticas, mas se revelam em olhares de dúvida e na expectativa de que a mulher seja menos resistente ou emocional demais para decisões complexas.
Além do ambiente hospitalar, a médica também enfrentou decisões pessoais difíceis, como equilibrar maternidade com plantões, sobreavisos e especializações. “O desafio maior foi nunca me deixar convencer de que eu deveria escolher entre ser mulher e ser excelente”, explica.
Essas barreiras também se manifestam na cobrança mais intensa sobre o desempenho. “Senti que meu erro era um ‘fracasso feminino’, enquanto o erro do colega era apenas humano. Precisava ser impecável, pois uma falha não seria atribuída ao acaso, mas à minha condição de mulher”, conta a cirurgiã, que destaca como isso exigiu dela mais resiliência e determinação.
Dra. Clarice observa que a autoridade feminina em centros cirúrgicos ainda é questionada com mais frequência. “A liderança da mulher precisa ser doce, mas firme, algo que nem todos aceitam. Ainda existe um incômodo silencioso quando a decisão final vem de uma mulher”, relata.
Para ela, a presença de mulheres em posições de destaque tem um papel transformador. “Quando uma de nós chega lá, abre-se uma porta que parecia trancada. Quero ser um exemplo para que minhas alunas e residentes saibam que é possível ser mulher, mãe, líder e cirurgiã de alta complexidade.”
Apesar da maior participação feminina nas faculdades e residências, ainda há desigualdade no acesso a posições de decisão. “Avançamos, mas não o suficiente. Temos mais médicas, mas ainda poucas líderes. Precisamos transformar estruturas, não só estatísticas”, pontua Dra. Clarice.
Ela também defende mudanças institucionais para valorizar a trajetória feminina na medicina. “Gostaria de ver estruturas que compreendessem a maternidade, que a gestação não fosse vista como fraqueza ou problema logístico, mas parte da vida da profissional. Que a liderança feminina fosse incentivada com políticas reais, não apenas com discursos.”
Na prática médica, ela valoriza o olhar sensível que muitas mulheres carregam. “Em áreas como a cirurgia plástica pediátrica ou reconstrutora, a técnica é essencial, mas a empatia transforma. Temos uma intuição de acolher não só o paciente, mas também a família e os medos não ditos. Isso não é fraqueza, é força.”
Por fim, Dra. Clarice deixa um conselho para quem está começando na carreira: “O medo vai estar presente, mas ele não precisa ser um freio, pode ser um motor. Confie no seu valor, mesmo quando ninguém validar. Procure mentoras, apoie-se em outras mulheres. Não aceite a narrativa de que você precisa escolher entre ser forte ou ser sensível. Você pode ser as duas coisas.”
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