Saúde • 19:46h • 17 de outubro de 2025
Mais de 4 milhões de brasileiros adultos vivem com sintomas de TDAH
Especialista alerta para impacto silencioso do transtorno não diagnosticado em carreiras, relacionamentos e saúde mental
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da CW Assessoria | Foto: Divulgação

Cerca de 4 milhões de brasileiros adultos convivem com sintomas do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) sem diagnóstico formal, segundo estimativa do Ministério da Saúde. O número representa 5,2% da população entre 18 e 44 anos e revela um cenário preocupante: muitos adultos enfrentam dificuldades diárias sem compreender que há uma condição neurobiológica por trás de seus desafios emocionais e comportamentais.
Longe de ser uma condição restrita à infância, o TDAH na vida adulta é um problema de saúde mental subestimado, alerta a Dra. Nathalia Martho Ferrari, psiquiatra do grupo ViV Saúde Mental e Emocional, que tem atuado em campanhas de conscientização sobre o tema. “O TDAH em adultos é um fantasma que assombra a vida de muitos, manifestando-se como ansiedade crônica, frustração profissional, instabilidade emocional e uma constante sensação de inadequação. Muitos passam anos sofrendo sem entender a raiz de suas dificuldades”, explica.
Prevalência subestimada e diagnóstico tardio
Estudos indicam que entre 60% e 70% dos casos de TDAH na infância persistem na vida adulta. No entanto, os sintomas podem ser mais sutis ou mascarados por estratégias de adaptação, o que dificulta o reconhecimento.
“A falta de diagnóstico precoce é um dos maiores entraves. Na vida adulta, o transtorno muitas vezes se confunde com ansiedade, depressão ou transtorno bipolar, levando a erros diagnósticos e tratamentos inadequados”, destaca a psiquiatra.
Esse desconhecimento gera um ciclo de autocrítica e sofrimento, em que o indivíduo se sente “incapaz” ou “disperso”, sem perceber que há uma explicação médica para suas dificuldades.
Produtividade e carreira em risco
No ambiente profissional, o TDAH não diagnosticado pode se tornar um sabotador silencioso de potenciais. Dificuldade de concentração, desorganização e impulsividade comprometem o desempenho, gerando instabilidade na carreira e baixa autoestima.
“Não é falta de esforço ou inteligência”, reforça a Dra. Nathalia. “Pelo contrário, muitos adultos com TDAH são extremamente criativos e têm grande capacidade de hiperfoco, mas enfrentam desafios nas funções executivas, como planejamento e autorregulação.”
Pesquisas internacionais, como as publicadas no Journal of Attention Disorders, apontam que o TDAH não tratado aumenta os custos sociais e econômicos, reduzindo a produtividade e elevando o número de afastamentos e atendimentos de saúde mental.
Impactos nas relações e na autoestima
Os efeitos do TDAH também se refletem nas relações pessoais. A impulsividade e a desatenção podem ser interpretadas como desinteresse, e a procrastinação constante gera frustrações em lares, amizades e relacionamentos amorosos.
"A vida social e afetiva de quem tem TDAH não diagnosticado é um campo minado”, afirma a psiquiatra. “A pessoa pode ser vista como irresponsável ou imatura, o que mina a autoestima e contribui para o isolamento emocional.” Muitos adultos com o transtorno acabam desenvolvendo ansiedade e depressão secundárias, além de um histórico de relacionamentos instáveis e sentimento de inadequação.
Diagnóstico e tratamento transformam vidas
A boa notícia é que o TDAH tem tratamento e manejo eficazes, especialmente quando diagnosticado corretamente. A avaliação inclui uma anamnese detalhada, que considera o histórico desde a infância. “O momento do diagnóstico é libertador. Muitos pacientes dizem que, pela primeira vez, conseguem entender sua própria história. Deixam de se ver como pessoas desorganizadas ou preguiçosas e passam a compreender que há uma condição tratável”, explica a Dra. Nathalia.
O tratamento pode incluir medicação, terapia cognitivo-comportamental (TCC), ajustes de rotina e estratégias de organização pessoal. Com suporte adequado, adultos com TDAH conseguem transformar suas características em potencialidades — como criatividade, energia e pensamento inovador — e alcançar melhor qualidade de vida.
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