Ciência e Tecnologia • 20:02h • 15 de dezembro de 2025
Nova espécie da Mata Atlântica recebe nome de Lula em estudo liderado pela Unesp
Pequeno sapo de montanha do gênero Brachycephalus foi apresentado em artigo da PLOS ONE por equipe internacional e reforça alerta sobre a conservação do bioma
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Unesp | Foto: Divulgação
Pesquisadores liderados pelo professor Marcos Bornschein, do Instituto de Biociências da Unesp, no câmpus do litoral paulista, descreveram uma nova espécie de anfíbio da Mata Atlântica e a batizaram de Brachycephalus lulai, em homenagem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O estudo foi publicado na última quarta-feira, dia 10, na revista científica PLOS ONE, e resulta de quase uma década de pesquisas em áreas de difícil acesso do Sul do Brasil.
A nova espécie pertence ao gênero Brachycephalus, grupo de pequenos sapos diurnos que vivem sob a serrapilheira da Mata Atlântica, do Nordeste ao Sul do país. Com menos de 18 milímetros de comprimento, esses anfíbios se destacam pela coloração intensa, pelo número reduzido de dígitos e pelo deslocamento lento. Com a descrição do novo animal, o gênero passa a reunir 44 espécies reconhecidas, das quais 37 foram descritas apenas neste século.
Segundo Bornschein, o avanço recente na identificação dessas espécies está diretamente ligado ao estudo dos cantos de anúncio. Ele explica que os Brachycephalus vivem em ambientes onde são mais fáceis de ouvir do que de ver e que, por muito tempo, os sons emitidos por esses anfíbios foram confundidos com o canto de grilos. A análise detalhada da bioacústica permitiu diferenciar espécies que, visualmente, são muito semelhantes.
O nome Brachycephalus lulai foi escolhido, de acordo com os autores, como uma forma de reconhecimento simbólico e também de chamado à atenção para a conservação da Mata Atlântica. O bioma é considerado um dos mais ameaçados do planeta e, apesar de sua relevância ecológica, costuma receber menos visibilidade internacional do que a Amazônia. A nova espécie ocorre na Serra do Quiriri, no norte de Santa Catarina, região de floresta montana que ainda preserva fragmentos importantes desse ecossistema.

O trabalho integra um esforço mais amplo de pesquisadores de diferentes instituições brasileiras que defendem a criação de um parque nacional na Serra do Quiriri, com o objetivo de proteger não apenas a nova espécie, mas também outros organismos ameaçados da região. A área está localizada na divisa entre Santa Catarina e Paraná e é considerada estratégica para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica.
O estudo contou com a participação de 11 pesquisadores de quatro países. Além da Unesp e da Universidade Federal do Paraná, participaram instituições do Reino Unido, dos Estados Unidos e da Alemanha. De acordo com o pesquisador Luiz Fernando Ribeiro, da UFPR, foram necessários nove anos de trabalho desde a descoberta da espécie, em novembro de 2016, até sua descrição formal.
Os autores destacam que esta é a descrição mais completa já realizada de um Brachycephalus no Sul do Brasil, região que concentra metade de todas as espécies conhecidas do gênero. A dificuldade histórica em diferenciá-las foi superada com análises detalhadas da coloração de exemplares vivos e preservados, além da comparação sistemática dos cantos de anúncio de todas as espécies da região.
A pesquisa adotou uma abordagem integrada, reunindo dados de morfologia, anatomia, esqueleto, bioacústica, filogenia molecular e ecologia. Os cientistas também analisaram a história ambiental da Mata Atlântica e concluíram que essas espécies passaram a ocupar os topos das montanhas à medida que o clima se tornou mais quente e úmido no passado, estabelecendo-se em florestas nebulares. Atualmente, esse tipo de floresta segue avançando sobre campos de altitude, fenômeno associado às mudanças climáticas.
Grande parte do financiamento veio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Em consonância com esse apoio, o artigo dedica atenção especial à conservação e aplica o conceito de status verde, metodologia proposta pela União Internacional para a Conservação da Natureza em 2021. A ferramenta permite avaliar o quanto as espécies se beneficiaram de ações de proteção já existentes e o quanto ainda dependem de medidas adicionais. No Brasil, essa abordagem foi aplicada até agora apenas pelo Laboratório de Ambientes Insularizados da Unesp, em São Vicente, e os pesquisadores avaliam que ela tende a se difundir pelos resultados práticos que oferece à conservação.
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