Ciência e Tecnologia • 08:30h • 25 de maio de 2025
Nova pílula contra colesterol pode revolucionar tratamento e inspirar SUS no Brasil
Estudo internacional mostra que o Obicetrapib reduz colesterol ruim e risco de infarto e AVC, trazendo reflexões importantes para o SUS e a saúde cardiovascular dos brasileiros
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Universidade de Monash | Foto: Divulgação

Uma pesquisa internacional liderada pela Universidade de Monash, na Austrália, aponta um avanço que pode impactar diretamente pacientes brasileiros com alto risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). O estudo revelou que o medicamento Obicetrapib, uma pílula de uso oral e diário, é capaz de reduzir significativamente o colesterol LDL — conhecido como colesterol ruim — e também a lipoproteína (a), uma proteína de origem genética associada ao aumento do risco cardiovascular.
A pesquisa foi apresentada no Congresso Europeu de Aterosclerose, no Reino Unido, e publicada no New England Journal of Medicine (NEJM), uma das revistas científicas mais respeitadas do mundo.
O medicamento se torna especialmente relevante para pacientes que, mesmo em tratamento com as melhores terapias atuais, não conseguem atingir níveis ideais de colesterol. Essa realidade é comum no Brasil, onde as doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa de morte, segundo dados do Ministério da Saúde.
“O Obicetrapib oferece uma solução eficaz, segura e de fácil administração, com resultados expressivos na redução do colesterol LDL e da lipoproteína (a), dois dos maiores vilões quando se fala em infarto e AVC”, explica o professor Stephen Nicholls, diretor do Instituto do Coração Vitoriano da Universidade de Monash.
Atualmente, no Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece medicamentos gratuitos para controle de colesterol, como estatinas e ezetimiba. No entanto, uma parcela da população continua apresentando níveis elevados de colesterol, seja por resistência aos tratamentos convencionais, seja por fatores genéticos, como é o caso da hipercolesterolemia familiar.
O estudo BROADWAY, que analisou mais de 2.500 pacientes com doenças cardiovasculares ou colesterol hereditário elevado, demonstrou que, após 12 semanas, o uso do Obicetrapib reduziu o colesterol LDL em média 32,6% e a lipoproteína (a) em 33,5%, uma proteína até então considerada de difícil controle. Os pacientes foram acompanhados em comparação a um grupo placebo, e o novo medicamento foi bem tolerado, sem eventos adversos significativos.
Reflexão para o Brasil
A descoberta acende um alerta positivo para gestores de saúde pública no Brasil. Casos de hipercolesterolemia familiar, muitas vezes subdiagnosticados, representam risco altíssimo para infartos precoces, especialmente em adultos jovens. Além disso, pacientes que convivem com histórico familiar de doenças cardíacas frequentemente não conseguem controle completo dos fatores de risco apenas com os medicamentos disponíveis no SUS.
O avanço científico traz reflexões importantes sobre a necessidade de o Brasil investir em terapias inovadoras e adotar modelos de compartilhamento de risco, semelhantes aos que vêm sendo implementados na aquisição de medicamentos de alto custo, como já ocorre no tratamento de doenças raras e oncológicas.
“O impacto desse medicamento não se limita à prática clínica. Ele sinaliza caminhos para políticas públicas que coloquem a prevenção no centro da estratégia, reduzindo infartos, AVCs e, consequentemente, os custos com emergências e internações no sistema público de saúde”, destaca Nicholls.
Atualmente, o SUS tem programas de distribuição gratuita de medicamentos para controle de colesterol, mas não contempla ainda terapias mais avançadas como inibidores de PCSK9 ou outros medicamentos de última geração. A chegada de medicamentos como o Obicetrapib, que se apresenta como uma pílula de fácil adesão, representa um caminho promissor para reduzir a mortalidade cardiovascular no país.
Próximos passos
O estudo BROADWAY segue em andamento, mas os resultados já publicados reforçam a eficácia e segurança do medicamento. O Brasil, que participa cada vez mais de discussões globais sobre inovação na saúde pública, pode acompanhar os desdobramentos para avaliar sua incorporação futura, tanto no setor privado quanto, eventualmente, no SUS.
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