Mundo • 14:01h • 24 de junho de 2025
O que o caso de Juliana na Indonésia ensina sobre turismo de risco e preparo para aventuras extremas
Tragédia mobilizou o Brasil e expos os desafios de segurança, logística internacional e respeito cultural em operações de resgate fora do país
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Foto: Reprodução/Redes Sociais

A confirmação da morte de Juliana Marins, brasileira de 26 anos que sofreu um acidente durante uma trilha no vulcão Rinjani, na Indonésia, trouxe um desfecho triste a uma mobilização que comoveu o Brasil nos últimos dias. Após quatro dias desaparecida em condições extremas, o corpo de Juliana foi localizado nesta terça-feira, 24 de junho, pelas equipes de resgate. A notícia interrompeu a esperança de familiares, amigos e milhares de pessoas que acompanhavam o caso com expectativa por um final diferente.
O acidente, ocorrido durante um passeio turístico em uma das trilhas mais desafiadoras da Indonésia, expôs uma série de camadas que vão muito além da tragédia individual. A história de Juliana desperta discussões sobre o ecoturismo, os limites da aventura, a responsabilidade de empresas locais, a infraestrutura de resgate e até as relações internacionais em casos como este.
Ecoturismo e o perigo da falsa sensação de segurança
Juliana não era iniciante em atividades ao ar livre. Como tantas outras pessoas, ela buscava o contato com a natureza e a superação pessoal através de experiências de ecoturismo. No entanto, o cenário encontrado na Indonésia expôs uma realidade muitas vezes negligenciada por turistas: nem toda trilha ou atividade que parece acessível nas redes sociais corresponde à realidade física e logística do local. O Monte Rinjani, apesar da vista deslumbrante, é conhecido por sua altitude elevada, terreno instável e histórico de acidentes com turistas.
O episódio reforça a importância de pesquisar com profundidade sobre os roteiros, entender os riscos, o grau de dificuldade e, principalmente, garantir que empresas e guias contratados estejam capacitados e preparados para imprevistos. Outro ponto de alerta é o acompanhamento constante do grupo e a necessidade de suporte específico para pessoas com condições físicas especiais, como no caso de Juliana, que tem miopia avançada.
Resgate em países com infraestrutura limitada
O caso também evidenciou a complexidade de realizar operações de resgate em países com infraestrutura limitada. Desde a queda de Juliana, a operação tem sido marcada por dificuldades técnicas, longos períodos de suspensão das buscas devido ao clima, e limitação de recursos humanos e tecnológicos por parte das equipes locais.
Por mais que haja pressão da comunidade internacional e de familiares, o governo brasileiro não pode intervir diretamente no comando das operações de resgate, uma vez que o acidente ocorreu em território estrangeiro. O Itamaraty atuou como intermediador, oferecendo apoio à família e cobrando agilidade das autoridades indonésias. No entanto, o ritmo das ações no local foi definido pelas equipes de resgate da Indonésia, que trabalham dentro das suas possibilidades estruturais e climáticas.
Turismo internacional e choque de culturas
Outro aspecto que veio à tona é o choque cultural e de expectativas entre brasileiros e indonésios. As críticas nas redes sociais, muitas vezes carregadas de preconceito ou desconhecimento, revelam a dificuldade de parte da população brasileira em compreender a diferença de realidades econômicas, logísticas e tecnológicas entre os países.
As transmissões ao vivo feitas pelas equipes de resgate locais também trouxeram um novo elemento ao caso: o acompanhamento, em tempo real, de uma operação de salvamento com alcance mundial. Essa exposição ao vivo gerou uma onda de ansiedade coletiva, com milhares de espectadores acompanhando cada movimento das equipes, muitas vezes sem entender o idioma ou os procedimentos técnicos em curso.
Lições recentes: o caso do balão em Santa Catarina
O caso de Juliana acontece poucos dias após outro acidente de grande repercussão: a queda de um balão de ar quente em Santa Catarina, que resultou na morte de oito pessoas durante um passeio turístico. O acidente evidenciou a falta de regulamentação no setor e acendeu o debate sobre os limites entre turismo de aventura e segurança.
Ambos os casos, apesar de diferentes em contexto e gravidade, trazem um mesmo alerta: a necessidade de pesquisar, planejar e entender os riscos envolvidos antes de realizar qualquer tipo de turismo que envolva desafios físicos, climáticos ou estruturais.
O que fica de lição
O caso de Juliana Marins reforça que o turismo de aventura é uma experiência enriquecedora, mas exige responsabilidade, preparo físico, análise criteriosa da infraestrutura oferecida e conhecimento detalhado do local. Também lembra que, em países com culturas e estruturas diferentes, o tempo de resposta e os recursos de resgate podem não ser compatíveis com as expectativas brasileiras. Por fim, destaca a importância de um olhar mais empático, sem julgamentos precipitados, tanto em relação à escolha de viagem de cada pessoa quanto ao esforço de quem, nas condições possíveis, luta para salvar vidas.
Os casos deixam ensinamentos dolorosos, mas necessários, seja no Brasil ou no exterior, o turismo de aventura exige preparo técnico, informação detalhada e consciência dos riscos envolvidos. O gosto pessoal por experiências extremas é legítimo, mas a responsabilidade por garantir a segurança, tanto por parte dos turistas quanto dos organizadores, é fundamental para evitar tragédias.
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