Saúde • 08:08h • 27 de julho de 2025
Pesquisa da USP revela como bactéria usa vitamina C para driblar sistema imunológico
Resultados abrem caminho para o desenvolvimento de novos tratamentos para infecções resistentes
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência SP | Foto: Arquivo Âncora1

Cientistas do Instituto de Biociências da USP descobriram um mecanismo inusitado que ajuda a explicar a resistência da Pseudomonas aeruginosa, bactéria associada a infecções hospitalares. O estudo revelou que o microrganismo consegue usar a vitamina C do próprio corpo humano, em parceria com uma proteína antioxidante, para se proteger da ação do sistema imunológico.
A pesquisa não pretende mudar as orientações sobre o consumo da vitamina, mas traz novas pistas bioquímicas que podem, no futuro, abrir caminho para medicamentos mais eficazes contra bactérias resistentes.
Segundo Rogério Aleixo Silva, doutor pelo IB e autor principal do estudo, foi possível comprovar que a vitamina C entra na bactéria e colabora com uma enzima chamada LsfA para neutralizar o estresse oxidativo, mecanismo de defesa usado pelas nossas células para combater infecções.
“A vitamina C sustenta a ação dessa enzima antioxidante, ajudando a bactéria a resistir ao ataque de células de defesa”, explica Luís Netto, do Centro de Processos Redox em Biomedicina (Cepid Redoxoma). Ele lembra que, embora a bactéria não seja perigosa para pessoas saudáveis, pode causar complicações graves em pacientes com a imunidade comprometida.
Algumas linhagens da P. aeruginosa já são resistentes a diversos antibióticos, o que torna urgente a busca por novos alvos terapêuticos. O estudo, publicado na revista Redox Biology, detalha a estrutura da enzima LsfA e como ela se torna ainda mais eficiente na presença da vitamina C.
Como a bactéria se protege
O corpo humano combate patógenos com células que produzem substâncias oxidantes, como o peróxido de hidrogênio, para enfraquecê-los. Para se defender, a P. aeruginosa conta com proteínas antioxidantes, como a peroxirredoxina LsfA, que neutralizam essas substâncias.
Os pesquisadores já haviam mostrado que a vitamina C pode ajudar essa proteína a continuar funcionando, mesmo sob estresse. Agora, conseguiram mostrar que a vitamina potencializa a defesa da bactéria, prolongando sua capacidade de neutralizar os ataques do sistema imune.
Como a bactéria não produz vitamina C, a hipótese dos cientistas é de que ela “sequestre” a substância do próprio hospedeiro, ou seja, do corpo da pessoa infectada. Isso significaria que a vitamina, ao invés de ajudar no combate à infecção, estaria fortalecendo a resistência da bactéria.
Luz sobre o processo
Para confirmar essa interação, os cientistas usaram uma sonda fluorescente genética chamada Hyper 7, que brilha na presença de peróxidos. Ao introduzi-la nas bactérias, foi possível observar que aquelas com a enzima antioxidante e vitamina C se recuperavam mais rápido do estresse oxidativo. Sem a enzima, a vitamina não tinha efeito.
“Foi a primeira vez que conseguimos provar que a vitamina C entra na bactéria e atua em conjunto com a LsfA”, destaca Silva.
Caminhos para novos remédios
A descoberta abre espaço para o desenvolvimento de medicamentos que possam bloquear o funcionamento dessa enzima. Isso tornaria a P. aeruginosa mais vulnerável tanto ao sistema imunológico quanto aos antibióticos já disponíveis.
Trata-se de uma resposta necessária a um problema crescente: a resistência antimicrobiana, que ameaça tornar obsoletos os tratamentos atuais para várias infecções.
Apesar da descoberta, os pesquisadores reforçam que não há motivo para mudar hábitos alimentares ou evitar o consumo de vitamina C. “Há benefícios bem estabelecidos no consumo de alimentos ricos em vitaminas. O problema é tirar conclusões apressadas de estudos complexos”, alerta Silva.
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