Responsabilidade Social • 08:39h • 08 de agosto de 2025
Por que as aves megacoloridas sumiram das cidades?
Estudo revela como alimentação, tamanho e coloração podem determinar a sobrevivência de aves em ambientes urbanos
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações de Agência SP | Foto: Antonio C. Pavanato

A cor das penas das aves é muito mais do que um detalhe bonito, ela tem um papel importante na comunicação entre os animais e pode influenciar diretamente na adaptação das espécies em ambientes urbanos. O biólogo Lucas Nascimento, da USP, estudou como aves muito coloridas se comportam em áreas urbanizadas e descobriu que elas têm mais dificuldade para sobreviver nesses locais.
Essas "aves megacoloridas" representam os 5% mais coloridos de cada bioma analisado: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa. Depois, o pesquisador também analisou o Brasil como um todo. O estudo foi publicado na revista Global Change Biology e faz parte da tese de doutorado de Lucas, hoje pós-doutorando no Instituto de Biociências da USP.
A função das cores
Durante a pesquisa, dois papéis principais das cores das penas ficaram claros. Um é ajudar na sobrevivência, seja para atrair parceiros ou se camuflar de predadores. O outro é cultural: a beleza das aves ajuda a valorizar a biodiversidade e atrai o olhar das pessoas.
Por que as aves mais coloridas sofrem mais?
Segundo o estudo, o ambiente urbano funciona como um "filtro", dificultando a adaptação das aves muito coloridas. Entre os motivos estão a falta de áreas verdes e o calor das cidades.
A pesquisa mostrou que, nas cidades, é mais comum encontrar aves grandes e onívoras, ou seja, que comem de tudo, como ração, restos de comida e lixo. Já as aves mais coloridas costumam ser menores e com alimentação mais específica, o que dificulta sua sobrevivência nesse ambiente.
Além disso, o tráfico ilegal de aves é mais comum nas áreas urbanas, o que também reduz a presença dessas espécies.
Apoio da população na ciência
Para fazer a pesquisa, Lucas e sua equipe usaram dados do eBird, uma plataforma onde qualquer pessoa pode registrar quais aves viu e onde. Isso ajudou os cientistas a coletar muitas informações sem depender apenas de trabalhos de campo caros e demorados.
Segundo o biólogo, essa participação da população aproxima as pessoas da natureza e ajuda a criar uma consciência ambiental maior. “Se a gente não se conecta com a natureza ao nosso redor, dificilmente vai se importar com o que acontece na Amazônia”, afirma Lucas.
Cidades também são biomas
Lucas Nascimento defende que as cidades também podem ser vistas como biomas, ou seja, ambientes com características próprias e vida selvagem que resiste ali, como os bem-te-vis. Ele se considera um “biólogo contemplador”, que olha para o ambiente urbano com atenção e curiosidade.
A ecologia urbana, área de estudo que ele defende, analisa como as espécies interagem entre si e com o meio nas cidades. E, diferente de outros biomas, o ambiente urbano depende muito de fatores sociais, como políticas públicas e desigualdades econômicas.
Por exemplo, bairros com menos áreas verdes tendem a ter menos aves, e isso também está ligado a questões como racismo ambiental. “Se o racismo estrutura a cidade, ele também estrutura a distribuição dos animais”, diz Lucas.
Evolução das aves nas cidades
Esse tipo de estudo ajuda a entender como a seleção natural age nos centros urbanos. Ainda é uma área nova, mas a pesquisa de Lucas dá o primeiro passo para entender quais espécies conseguem se adaptar melhor à cidade – e por quê.
Ele lembra que, na biologia, os estudos podem focar em diferentes níveis, como células, indivíduos, populações ou comunidades. Seu trabalho foca nas comunidades de aves, mas abre caminho para novas pesquisas que explorem mais profundamente o impacto da urbanização.
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