Economia • 18:28h • 30 de dezembro de 2025
Transmissão de energia entra no centro da transição elétrica e 2026 será o teste decisivo
Leilões semestrais, integração das renováveis e projetos de ultra-alta tensão colocam a infraestrutura elétrica no centro do planejamento energético
Da Redação | Com informações da Assessoria Intelligenzia | Foto: Divulgação
O setor de transmissão de energia no Brasil encerrou 2025 com um sinal claro de apetite dos investidores e entra em 2026 diante de um cenário mais robusto, competitivo e estratégico. O único leilão de transmissão realizado no fim de outubro surpreendeu pelo nível de concorrência: todos os sete lotes ofertados foram arrematados, com previsão de R$ 5,53 bilhões em investimentos distribuídos por 12 estados. O deságio médio de 47,98% sobre a Receita Anual Permitida (RAP) máxima indicou não apenas competição acirrada, mas também confiança na estabilidade do setor.
Esse resultado funciona como termômetro para o que vem pela frente. O governo federal e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já projetam um salto nos investimentos contratados a partir de 2026, impulsionado principalmente pela necessidade de integrar, com segurança, o crescimento acelerado das fontes renováveis à malha do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Dois leilões em 2026 mudam a lógica do setor
Uma das principais novidades no radar é a confirmação de dois leilões de transmissão em 2026. O primeiro está previsto para março, com lotes já definidos e em fase final de consulta pública na Aneel. Devem entrar nesse certame tanto empreendimentos remanescentes do leilão de 2025 quanto novos projetos de grande porte. O segundo leilão está programado para o segundo semestre, com a carteira de obras sendo fechada conforme os estudos da EPE avançam até o fim de 2025.
A divisão dos projetos em leilões semestrais representa uma mudança relevante na estratégia do setor. Em vez de concentrar tudo em um megaleilão anual, o novo modelo tende a diluir riscos, ampliar a participação de investidores e permitir um planejamento financeiro mais consistente. Para o governo, significa antecipar contratações de infraestrutura crítica. Para as empresas, abre espaço para estruturar consórcios e estratégias com mais previsibilidade.
Licenciamento e regras mais rígidas entram no debate
Além do calendário, o ambiente regulatório também deve passar por ajustes. Em 2025, o Congresso discutiu a Medida Provisória 1.304, voltada à modernização do setor elétrico. Embora o foco principal esteja em geração e comercialização, a proposta incluiu dispositivos para agilizar o licenciamento ambiental de obras de transmissão estratégicas, historicamente um dos principais gargalos do setor.
A expectativa é de maior coordenação federativa para projetos interestaduais, reduzindo atrasos ligados a questões ambientais e fundiárias. Paralelamente, a Aneel avalia mudanças nos editais, como exigências mais rigorosas de capital próprio mínimo e análises financeiras mais profundas para propostas com RAP muito agressiva. O objetivo é garantir que deságios elevados se traduzam em obras entregues no prazo, e não em contratos inviáveis ao longo do tempo.
Renováveis pressionam a expansão da malha
Do ponto de vista técnico, a expansão da transmissão está diretamente ligada à transformação da matriz elétrica brasileira. O avanço da geração eólica, especialmente no Nordeste, e da solar fotovoltaica exige novos corredores de escoamento de energia até os grandes centros consumidores do Sudeste e do Sul.
Já está em construção um quarto sistema de corrente contínua (HVDC) ligando o Nordeste ao Sudeste, somando-se aos três grandes sistemas existentes, Itaipu, Belo Monte e Madeira. A EPE também estuda novos projetos de ultra-alta tensão em HVDC para licitação até 2027, o que pode elevar a escala dos próximos leilões. São empreendimentos mais caros e complexos, porém capazes de transportar grandes blocos de energia a longas distâncias com menores perdas.
Há expectativa de que os leilões de 2026 já incluam alguns desses projetos estruturantes, como linhas de 800 kV em corrente contínua conectando polos renováveis do Nordeste ou do Norte às regiões Sudeste e Centro-Oeste, reforçando a segurança energética nacional.
Novas demandas também pressionam a rede
Além das renováveis, outros fatores ampliam a necessidade de reforços na transmissão e subtransmissão. O crescimento da geração distribuída, a expansão dos data centers e o avanço gradual da frota de veículos elétricos já começam a impactar o planejamento da rede. O Operador Nacional do Sistema (ONS) tem alertado para riscos de saturação em horários de pico de geração renovável, indicando que a resposta não virá apenas com obras físicas, mas também com soluções de gerenciamento de demanda e armazenamento de energia.
O que esperar de 2026
Olhando adiante, 2026 se desenha como um ano-chave para a transmissão no Brasil. Os próximos leilões tendem a movimentar volumes ainda maiores de investimento e a testar a capacidade do planejamento setorial de absorver mudanças tecnológicas, regulatórias e de mercado. Para as empresas, o desafio será calibrar estratégias após as lições de 2025. Para o poder público, manter um arcabouço regulatório estável, previsível e atrativo, sem abrir mão de ajustes que reduzam riscos de atraso e inadimplência.
A expansão da transmissão vai além de engenharia e capital. Trata-se de um pilar estratégico para sustentar o crescimento econômico e a transição energética do país, garantindo que a energia, cada vez mais limpa e diversificada, chegue com confiabilidade e custo competitivo a todas as regiões. O desempenho de 2026 pode consolidar o Brasil como um dos destinos mais atrativos do mundo para investimentos em infraestrutura energética e preparar o sistema elétrico para os desafios da próxima década.
Aviso legal
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, integral ou parcial, do conteúdo textual e das imagens deste site. Para mais informações sobre licenciamento de conteúdo, entre em contato conosco.
Últimas Notícias
As mais lidas
Ciência e Tecnologia
Paralisação completa do 3I/Atlas intriga cientistas e realinhamento aponta para novo comportamento
Registros confirmados por observatórios independentes em três continentes mostram desaceleração em microetapas, parada total e ajuste direcional incomum, ampliando questionamentos sobre a natureza do visitante interestelar
Ciência e Tecnologia
3I/ATLAS surpreende e se aproxima da esfera de Hill de Júpiter com precisão inédita