Ciência e Tecnologia • 09:18h • 22 de agosto de 2025
Unioeste desenvolve projeto para transformar resíduos de tilápia em colágeno
Iniciado em 2025 no Hub de Inovação AgriTech Symbiosis da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Toledo, o projeto investiga rotas tecnológicas para a produção de colágeno hidrolisado a partir da pele e das escamas do peixe, com foco em sustentabilidade, inovação e fortalecimento da bioeconomia no Paraná
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações da Agência de notícias do Paraná | Foto: UNIOESTE

Um projeto desenvolvido no Hub de Inovação AgriTech Symbiosis da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Toledo, está transformando resíduos da cadeia da tilápia em um ingrediente de alto valor agregado: o colágeno. A iniciativa, iniciada em 2025, busca rotas tecnológicas para a produção de colágeno hidrolisado a partir da pele e das escamas do peixe, unindo sustentabilidade, inovação e fortalecimento da bioeconomia regional.
A ideia nasceu de uma demanda da empresa paranaense Oestegaard Kontinuer, especializada em equipamentos para reaproveitamento de subprodutos de origem animal. Interessada em explorar o mercado do colágeno — ainda ausente em seu portfólio —, a companhia encontrou na Unioeste a parceira ideal para desenvolver conhecimento técnico e processos industriais capazes de transformar resíduos em oportunidade de negócio.
Com apoio do Governo do Estado, o projeto foi contemplado em 2023 por edital da Agência de Desenvolvimento Regional Sustentável (Ageuni), ligada à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). O programa conecta universidades, empresas e governo para agregar tecnologia aos processos produtivos e impulsionar o desenvolvimento socioeconômico regional.
Segundo a professora Maria da Piedade Araújo, coordenadora do Ageuni na Unioeste, a proposta mostra como a integração entre universidade e setor produtivo pode gerar soluções concretas. “Esse diálogo abriu espaço para que a empresa apresentasse seu desafio e a universidade sua solução. O resultado é uma colaboração que fortalece a cadeia do pescado, a biotecnologia e a saúde, além de promover o aproveitamento sustentável de resíduos”, afirma.
Já para Vinicius Torquato, diretor da Oestegaard Kontinuer, o projeto contribui para que o Brasil avance além das commodities. “Queremos agregar valor aos nossos produtos. Essa pesquisa, além de apoiar o agronegócio, pode estimular a instalação de novas fábricas e movimentar toda a cadeia metalmecânica e de insumos da região”, destaca.
Embora o Paraná seja líder na produção de tilápia, não há registro de produção industrial de colágeno a partir da pele e das escamas do peixe no Brasil. Hoje, boa parte desses resíduos vai para ração animal ou aterros sanitários. A pesquisa pretende mudar esse cenário: atualmente, apenas 30% a 40% do peso da tilápia é aproveitado para consumo humano. Transformar pele e escamas em colágeno significa gerar empregos, reduzir desperdício e agregar valor a um setor estratégico da economia paranaense.
O colágeno de tilápia apresenta vantagens em relação às fontes bovinas e suínas: alta biocompatibilidade, baixo risco de contaminação por zoonoses e estrutura molecular semelhante ao colágeno humano, o que facilita a absorção, especialmente na versão hidrolisada. Além disso, atende consumidores que evitam derivados de boi e porco por razões religiosas, culturais ou alimentares.
No aspecto ambiental, a iniciativa reduz a pegada ecológica da piscicultura e se alinha à bioeconomia e à circularidade produtiva, tendências cada vez mais exigidas pelos mercados globais.
Etapas do projeto – O estudo começou em ambiente laboratorial, no campus de Toledo, com testes de pré-tratamento, extração, hidrólise enzimática e secagem do colágeno, além de análises físico-químicas e funcionais. A próxima fase prevê o escalonamento e a definição do processo mais viável para transferência ao setor produtivo. Resultados preliminares já indicam potencial de escalabilidade industrial.
Segundo a professora Mônica Lady Fiorese, coordenadora do projeto, os ganhos são múltiplos: a Oestegaard Kontinuer amplia sua capacidade de inovação, a Unioeste fortalece a pesquisa aplicada e a formação de estudantes, o governo apoia políticas de inovação e a sociedade se beneficia com geração de empregos e soluções sustentáveis.
“A parceria com a Oestegaard é estratégica. Já tivemos bons resultados com subprodutos da cadeia cárnea e agora aplicamos esse conhecimento ao pescado. Estamos transformando um resíduo de baixo valor em um ingrediente nobre, com aplicações em alimentos, cosméticos, fármacos e biomateriais”, afirma Fiorese.
Para a pesquisadora, a iniciativa reforça o protagonismo do Paraná na bioeconomia. “É um avanço científico e tecnológico que alia inovação, sustentabilidade e desenvolvimento regional”, conclui.
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