Ciência e Tecnologia • 10:21h • 23 de junho de 2025
Veneno de escorpião da Amazônia mostra efeito semelhante ao de quimioterapia contra câncer
Molécula extraída do veneno do Brotheas amazonicus apresenta efeito comparável ao de quimioterápico tradicional e abre caminho para novas terapias contra a doença
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações do Governo de SP | Foto: Pedro Ferreira Bisneto/iNaturalist

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram no veneno de um escorpião amazônico uma molécula promissora para o tratamento do câncer de mama, um dos tipos mais comuns e letais entre as mulheres. O estudo, realizado pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP), revelou que a toxina extraída do Brotheas amazonicus apresentou ação semelhante à de quimioterápicos já consagrados na oncologia.
Os primeiros resultados foram apresentados durante a FAPESP Week França, realizada entre 10 e 12 de junho, no sul da França. De acordo com a coordenadora do projeto, professora Eliane Candiani Arantes, o trabalho de bioprospecção permitiu isolar uma molécula com capacidade de induzir a morte de células cancerígenas, principalmente por necrose.
Os testes mostraram que o composto, batizado de BamazScplp1, teve desempenho comparável ao paclitaxel, medicamento amplamente utilizado em tratamentos contra o câncer de mama. A expectativa dos pesquisadores é produzir a molécula em larga escala por meio de expressão heteróloga, utilizando a levedura Pichia pastoris como organismo hospedeiro.
Além da pesquisa com o escorpião amazônico, a equipe da USP trabalha em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e o Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap), da Unesp de Botucatu. Entre os avanços já alcançados pelo grupo estão o desenvolvimento do selante de fibrina, uma “cola biológica” feita a partir de veneno de serpente, e estudos sobre novas proteínas de interesse médico.
Outra frente de pesquisa é o aprimoramento do selante de fibrina por meio da combinação de diferentes toxinas, como a colineína-1 e o fator de crescimento CdtVEGF, ambas extraídas de serpentes brasileiras. O objetivo é aumentar a escala de produção e melhorar a eficiência do produto.
Em paralelo, outros centros de pesquisa paulista também avançam no desenvolvimento de novas terapias contra o câncer. Em Campinas, o Centro de Inovação Teranóstica em Câncer (CancerThera) aposta no uso de radioisótopos para diagnóstico e tratamento de diversos tumores, enquanto no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, uma vacina terapêutica baseada em células dendríticas fundidas com células tumorais vem sendo testada em pacientes com glioblastoma.
Na França, pesquisadores avaliam o uso da inteligência artificial para melhorar o prognóstico de pacientes com glioblastoma por meio de análises avançadas de imagens de ressonância magnética, uma técnica que pode evitar a necessidade de biópsias invasivas.
Os estudos com a toxina do escorpião amazônico ainda estão em estágio inicial, mas reforçam a importância da biodiversidade brasileira como fonte de potenciais tratamentos para doenças de alta complexidade.
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