Saúde • 11:09h • 24 de dezembro de 2025
Verão Laranja expõe como desinformação e culto ao bronze alimentam o câncer de pele no Brasil
Especialistas alertam que mitos nas redes sociais e a normalização da exposição solar excessiva aumentam riscos e dificultam a prevenção de um dos cânceres mais frequentes do país
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da Digital Trix | Foto: Divulgação
Com a chegada do verão e o aumento do tempo de exposição ao sol, o Brasil volta a enfrentar um problema recorrente de saúde pública: o crescimento dos casos de câncer de pele. O tumor é o mais frequente no país e representa cerca de 30% a 33% de todos os diagnósticos oncológicos. Dados do Instituto Nacional de Câncer indicam mais de 220 mil novos casos por ano, sendo aproximadamente 85% do tipo não melanoma e 15% melanoma, a forma mais agressiva da doença.
Apesar da alta incidência e da existência de medidas simples de prevenção, o câncer de pele ainda é subestimado por parte da população. O problema envolve fatores culturais, como a valorização do bronzeado, e ganhou novos contornos com a disseminação de desinformação nas redes sociais, onde influenciadores digitais frequentemente propagam conteúdos sem respaldo científico sobre exposição solar e fotoproteção.
Segundo o oncologista Rodrigo Perez Pereira, líder nacional da especialidade pele da Oncoclínicas, o risco é frequentemente minimizado. “Vivemos em um país de altíssima exposição solar, mas ainda com baixa percepção de risco. O dano provocado pela radiação ultravioleta é cumulativo e silencioso, e sua consequência mais grave é justamente o câncer de pele, totalmente ligado a hábitos que poderiam ser prevenidos”, afirma.
Redes sociais, estética e riscos invisíveis
As plataformas digitais se tornaram um dos principais vetores de disseminação de tendências ligadas à estética e ao estilo de vida, inclusive no campo da saúde. No caso da dermatologia, esse ambiente tem favorecido a circulação de informações imprecisas sobre proteção solar. A Skin Cancer Foundation, nos Estados Unidos, identificou aumento expressivo de conteúdos que questionam a segurança dos filtros solares químicos, narrativa que se espalha com rapidez nas redes.
Levantamento da American Academy of Dermatology, divulgado em 2024, aponta que 59% dos jovens da Geração Z acreditam em mitos como “bronzeado é saudável” ou “um bronzeado inicial evita queimaduras”. Esse tipo de crença contribui para comportamentos que elevam o risco de melanoma, inclusive entre pessoas mais jovens.
No Brasil, vídeos curtos que estimulam o bronzeamento intenso e relativizam o uso do protetor solar alcançam grande audiência durante o verão. Para Perez, o impacto dessas tendências vai além do comportamento individual. “Quando uma tendência viraliza, ela entra no cotidiano com uma velocidade que a ciência nem sempre consegue acompanhar. A saúde não pode ser guiada por algoritmos. Influência demanda responsabilidade, e informações incorretas podem gerar consequências importantes”, avalia.
Entre os fenômenos observados por especialistas está a chamada tanorexia, caracterizada pelo desejo persistente de manter a pele bronzeada, mesmo diante de sinais evidentes de dano solar. O comportamento envolve uma percepção distorcida da própria imagem e leva a exposições repetidas, reforçando um ciclo de prejuízos cumulativos à pele.
Diagnóstico precoce ainda é decisivo
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a chance de cura do câncer de pele ultrapassa 90% quando o diagnóstico ocorre de forma precoce. O principal desafio está em reconhecer alterações suspeitas e procurar atendimento médico sem demora.
Perez destaca que o câncer de pele pode atingir qualquer pessoa, inclusive indivíduos de pele negra. “O mito de que pessoas negras não têm câncer de pele atrasa o diagnóstico e aumenta o risco de casos graves. A doença pode surgir em regiões menos pigmentadas, como palmas das mãos, plantas dos pés e mucosas”, explica.
A regra do ABCDE segue como uma das ferramentas mais eficazes para identificar sinais de alerta em pintas e manchas na pele: assimetria, bordas irregulares, cor variável, diâmetro acima de 6 mm e evolução ao longo do tempo. Feridas que não cicatrizam, sangram ou causam dor também exigem avaliação médica.
Prevenção como estratégia central
Alguns grupos apresentam risco aumentado para o desenvolvimento do câncer de pele, como pessoas de pele muito clara, ruivas ou com sardas, indivíduos com histórico pessoal ou familiar da doença, quem teve exposição solar intensa ao longo da vida e aqueles que sofreram queimaduras na infância e adolescência. Idade acima de 65 anos e o uso prévio de câmaras de bronzeamento, proibidas no Brasil desde 2009, também elevam o risco.
A prevenção passa pelo uso diário de protetor solar com FPS 30 ou superior, inclusive em dias nublados, com reaplicação a cada duas horas ou após contato com água. Evitar o sol entre 10h e 16h, utilizar chapéus, óculos com proteção UV, roupas adequadas e buscar sombra reduzem significativamente os danos. A observação regular da pele e consultas periódicas com dermatologista completam o cuidado.
“O grande desafio no câncer de pele é construir uma percepção real de risco. Ainda tratamos a exposição solar como algo inofensivo, quase cultural, quando na verdade ela carrega consequências que se acumulam ao longo dos anos. Precisamos transformar a forma como o brasileiro enxerga a própria pele, não como algo secundário, mas como um órgão vital”, conclui Perez.
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