Ciência e Tecnologia • 13:08h • 15 de dezembro de 2025
Vinho tinto e cérebro: o que revela nova pesquisa com ressonância magnética
Pesquisa brasileira usa ressonância magnética funcional para comparar atividade cerebral de consumidores moderados e abstêmios, sem indicar relação causal definitiva
Jornalista: Luis Potenza MTb 37.357 | Com informações da InCor | Foto: Arquivo/Âncora1
Um estudo pioneiro conduzido por pesquisadores do InCor, Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, analisou possíveis efeitos do consumo moderado de vinho tinto sobre a atividade cerebral. A pesquisa comparou 30 consumidores regulares da bebida e 27 pessoas abstêmias, todos sem critérios para declínio cognitivo, utilizando ressonância magnética funcional e testes neuropsicológicos para avaliar atenção, memória e velocidade mental.
O trabalho foi desenvolvido por equipes do InCor, do Hospital das Clínicas e do Laboratório de Cardiologia Experimental, sob a liderança do professor Protásio Lemos da Luz. Durante o estudo, os participantes passaram por exames de imagem enquanto realizavam tarefas clássicas de atenção e memória, além de avaliações neuropsicológicas realizadas fora do equipamento de ressonância.
Os resultados não identificaram diferenças significativas em algumas características estruturais do encéfalo entre os grupos. No entanto, foram observados padrões distintos de recrutamento de regiões cerebrais durante tarefas cognitivas de atenção. Entre os abstêmios, houve maior ativação de áreas do lobo parietal esquerdo, região localizada na parte posterior do cérebro. A idade e o nível de inteligência dos participantes influenciaram esses padrões de ativação.
Nos testes neuropsicológicos de atenção e velocidade mental, como Stroop e Trail Making, os indivíduos que consumiam vinho tinto apresentaram desempenho levemente superior. Apesar disso, os pesquisadores destacam que os achados devem ser interpretados com cautela. Segundo o professor Protásio Lemos da Luz, o estudo não permite conclusões definitivas. Ele explica que a pesquisa tem caráter exploratório e serve para levantar hipóteses e orientar investigações futuras, sem comprovar efeitos diretos do vinho sobre a função cerebral.
Os pesquisadores Lucas Z. Campane e Mariana Nucci detalham que o consumo moderado de vinho tinto não esteve associado à redução volumétrica das estruturas encefálicas avaliadas. Eles apontam que as diferenças observadas no recrutamento cerebral podem estar relacionadas a mecanismos compensatórios distintos ao longo do envelhecimento, influenciados por fatores como idade e QI, sem que seja possível definir uma base neurobiológica clara para essas variações.
A equipe científica reforça que ainda são necessários estudos maiores e de longo prazo para compreender melhor a relação entre consumo moderado de álcool e cognição. O professor destaca que o vinho tinto tem sido associado, em outras pesquisas, a possíveis benefícios cardiovasculares e neurológicos, em parte pela presença de compostos antioxidantes como o resveratrol, mas ressalta que isso não deve ser interpretado como recomendação de consumo.
O cardiologista Roberto Kalil Filho também enfatiza que qualquer consumo de bebida alcoólica deve ser feito com moderação e responsabilidade. Ele alerta que resultados científicos que apontam possíveis benefícios não devem servir como incentivo ao uso indiscriminado, especialmente em pessoas com histórico de problemas cardiovasculares, hepáticos ou dependência.
O estudo integra um convênio entre o InCor e entidades do setor vitivinícola brasileiro, que apoiam pesquisas científicas voltadas a compreender os efeitos do vinho e do suco de uva na saúde humana. Participam da iniciativa instituições como Sicredi, Consevitis-RS, Fecovinho, ACIU, Agavi, Uvibra, Sindivinho RS, Anprovin e Sindusvinho. Para o setor, o apoio à pesquisa é visto como uma forma de qualificar o debate público e reforçar o compromisso com produção responsável e informação baseada em evidências.
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