Responsabilidade Social • 09:18h • 01 de julho de 2025
Violência, invisibilidade e resistência: a dura realidade da juventude negra LGBTQIA+ no Brasil
Pessoas negras LGBTQIA+ enfrentam exclusão, violência e invisibilidade no mercado de trabalho, em meio ao racismo estrutural e à LGBTfobia ainda presentes na sociedade brasileira
Jornalista: Carolina Javera MTb 37.921 com informações da CUT | Foto: Arquivo Âncora1

“A juventude preta, lésbica, gay, trans está morrendo. Espancada, assassinada. É pesado. E isso não é exceção, é estrutura.” A fala impactante é de Paloma Santos, presidenta do SindiLimpeza-SP, dirigente da CONTRACS-CUT e integrante do Coletivo Nacional LGBTQIA+ da CUT.
Em um país onde 65% das pessoas LGBTQIA+ assassinadas em 2023 eram negras, a violência física se soma à exclusão social e econômica. Para Paloma, a resistência diária não é escolha, é condição de sobrevivência. “A gente não tem tempo de chorar. Não tem tempo de desistir. Precisa continuar vivendo.”
Exceção não é inclusão
Paloma destaca o abismo entre a realidade da população negra LGBTQIA+ e os poucos casos de visibilidade. “Quando uma travesti preta se destaca, parece muito. Mas é só uma. A exceção não é inclusão, é resistência individual contra um sistema que ainda nos mata.”
Ela critica o uso seletivo de símbolos de diversidade como estratégia de marketing. “A sociedade consome nossa arte, mas não quer nos ver na política, nas campanhas publicitárias, nos cargos de chefia. É como se dissessem: ‘eu gosto de você, mas não te apresentaria pra minha mãe’.”
Racismo mercadológico e exclusão no trabalho
A dirigente denuncia o que chama de “racismo mercadológico”: a presença limitada de pessoas LGBTQIA+ negras em campanhas publicitárias, geralmente substituídas por perfis considerados “vendáveis”. “Travestis pretas não aparecem porque dizem que não vendem — mas não vendem por causa do preconceito”, afirma.
Estudos como o do Vote LGBT confirmam esse cenário: 25% dos LGBTQIA+ negros estão na informalidade, contra 14% dos brancos. A renda também é menor — cerca de 40% inferior. E mesmo quando se qualificam, são empurrados para funções precarizadas. “Parece contraditório, mas quanto mais a gente se capacita, mais vem a exclusão”, aponta Paloma. “Querem a gente no serviço, mas não no cargo de liderança.”
Sobreviver é resistir
Mulher negra e lésbica, Paloma relata na própria trajetória o acúmulo de camadas de exclusão. “Já ouvi: ‘além de preta, é lésbica’. E os ‘além’ não param. Mulher, preta, lésbica, de esquerda... Cada camada fecha uma porta.” Segundo ela, essa exclusão atravessa desde a entrada no mercado de trabalho até a ausência em espaços de poder.
Invisibilidade estatística
A exclusão começa nas estatísticas. A dirigente chama atenção para a falta de dados sobre trabalhadores LGBTQIA+ negros em situação informal. “E quem vive de bico? Quem é PJ porque foi obrigado? Quem está na coleta de lixo, no chão de fábrica? Essas pessoas não aparecem.”
A ausência de dados dificulta a criação de políticas públicas e até a ação sindical. Paloma defende que os sindicatos devem investir em formas de mapear e representar essas populações invisibilizadas.
Um chamado aos sindicatos
Para a dirigente, acolher não basta. É preciso presença e ação efetiva. “Tem que dar espaço nas direções, garantir cláusulas nas convenções, parar de dizer ‘estamos juntos’ e realmente estar.”
Paloma conclui com um apelo direto: resistir cansa, mas ainda não é possível desistir. A luta por dignidade, visibilidade e vida plena para a juventude negra LGBTQIA+ continua, e precisa de aliados concretos, não só no discurso, mas também na prática.
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